sábado, 11 de junho de 2011

Dilma reforça governo e aceita demissão de Palocci de bate-pronto

Em menos de 1 minuto nomeou sucessor

Recusa do ex-ministro a fornecer as explicações pertinentes o levou a se isolar no próprio partido

A presidenta Dilma Rousseff, ao aceitar com presteza a demissão de Palocci, impediu que um fator de estreitamento da base social e política do governo continuasse a debilitá-lo. No mesmo dia, a bancada do PT no Senado, mesmo após o parecer do procurador geral, recusara apoiar Palocci. Sem que este desse qualquer explicação, por que o partido ou o governo teriam que defender o seu enriquecimento pessoal, quando ele preferia ser dependente dos clientes, isto é, dos mais ricos, do que leal à República?

Negócios privados de Palocci o isolaram no governo e no PT

Presidenta Dilma agiu no momento certo e com rapidez em defesa do seu governo


A presidenta Dilma Rousseff, ao resolver o caso provocado pelos negócios pessoais do agora ex-ministro Antônio Palocci, tomou a decisão que tinha de tomar – e que, se não a tomasse, não estaria assumindo plenamente, diante do povo que a escolheu, as funções para as quais foi eleita. Portanto, a presteza com que Dilma aceitou a demissão corresponde à consciência de seu dever diante de uma situação que o próprio Palocci tornou insustentável. Dilma não poderia fazer outra coisa, e, na nota em que anunciou a demissão, comunicou que a senadora Gleisi Hoffmann é a nova ministra da Casa Civil.

Nessas horas sempre é interessante prestar atenção no que dizem os que querem que o governo Dilma seja um fracasso. “O Globo”, por exemplo, escolheu como manchete, na quarta-feira, “Palocci cai e enfraquece Dilma com apenas 5 meses de governo”. Se eles dizem isso, é porque deve ser o contrário.

A presidenta estaria realmente enfraquecida se continuasse a manter Palocci na Casa Civil. O motivo, já expresso por várias lideranças políticas, inclusive do PT, é que a revelação do peculiar enriquecimento do então ministro é um problema dele, que afeta a ele, e que o governo – ou o partido de Palocci – não têm porque defender ou carregar.

Até mesmo porque não há como defendê-lo, uma vez que Palocci prefere ser mais “leal aos clientes”, para usar a expressão do vice-presidente Michel Temer, do que à República ou ao governo que a dirige. Em síntese: não foi o governo ou o PT que enriqueceram de uma forma pouco clara – foi o Palocci.

Portanto, é ele que tem de arcar com os custos da cornucópia que apareceu na sua vida. Mas, ao invés de explicá-la, o então ministro tentou transformar o problema numa questão jurídica – como se o problema fosse a legalidade formal de seus atos, e não o conteúdo deles, as suas relações dependentes dos mais do que ricos, tão dependentes que não pode nem citar os seus nomes. Pela sua tese, desde que seja formalmente dentro da lei, ministros ou deputados podem usar sua credencial de ser ou terem sido ministros ou deputados para encherem as burras prestando serviços a bancos ou a multinacionais. Entretanto, não é assim.

Sobretudo se eles são membros de um partido popular. A adesão de Palocci ao neoliberalismo carregou também outro vício: a tão incensada “transparência” nunca é para uso próprio.

Considerar tais modernidades como normais, evidentemente, equivaleria a fazer dos tucanos o modelo da vida pública. Essa é, em poucas palavras, a questão.

Não insistiremos no fato, óbvio, de que todas as consultorias bem sucedidas do mundo adoram expor nome e logotipo de seus clientes. As “cláusulas de confidencialidade” nos contratos dessas consultorias não incluem o nome dos clientes porque a melhor propaganda para obter outros é, exatamente, divulgar os que já se beneficiam com os seus serviços.

Apesar disso, alguns – até bem intencionados – compararam a crise política originada pelo caso Palocci àquela outra, no governo Lula, em que foram acusados, injustamente, uma série de dirigentes do PT, a começar pelo então ministro José Dirceu.

Sob qualquer ângulo pelo qual se olhe os dois acontecimentos, é inevitável chegar à conclusão de que esta é uma comparação entre abacaxis e juntas homocinéticas.

Nenhum daqueles que eram dirigentes (e era uma tentativa de golpe de Estado - aliás, facilitada pela política econômica que Palocci imprimiu ao primeiro mandato do presidente Lula) foi até hoje acusado de fazer algo para seu próprio enriquecimento pessoal. Essa tentativa de difamação grosseira, estúpida, fracassou desde o início. Até aquele rebento da oligarquia escravagista do Rio Grande do Norte que na época pontificava pelo Senado, dizia que o problema era que o beneficiado tinha sido o governo e o PT. Nenhuma das vítimas dessa chicana, por sinal, enriqueceu, muito menos tão velozmente – José Dirceu, que realmente tornou-se, depois, consultor, o fez publicamente, e sem esconder os seus clientes.

Portanto, a direção do PT, quando se reuniu no último dia 2, agiu acertadamente ao não emitir, sem que houvesse explicações do ministro, uma nota de apoio a Palocci.

O que veio foi desastroso – as duas entrevistas, à Globo e à Folha de S. Paulo. Como a questão já foi resolvida pela presidenta Dilma, não entraremos no conteúdo dessas entrevistas. Mas é evidente que não fomos os únicos a perceber o desastre, muito ao contrário.

A decisão do procurador geral da República – exarada em termos encomiásticos para Palocci – não mudou, nem poderia mudar, a situação, porque não estava ali o problema. No dia seguinte, apesar dos esforços da senadora Marta Suplicy, a bancada do PT no Senado negou-se a apoiar Palocci. Recorrendo ao presidente nacional do partido, deputado Rui Falcão, a senadora também não conseguiu sucesso.

Já mencionamos os motivos desse isolamento acelerado de Palocci: por que se ia usar o governo ou o partido para defender, sem explicações, a sua fortuna pessoal? O secretário geral nacional do PT, Elói Pietá, ex-prefeito de Guarulhos, publicou, após a presidenta aceitar o pedido de demissão de Palocci, um artigo sobre o assunto. Reproduziremos alguns trechos:

“Para os petistas, não sair em defesa de Palocci foi uma reação contra o risco de distanciamento do PT em relação à sua base social. Por isso estamos com a presidenta Dilma (…), ela preferiu não perder o sentido social de seu governo.

“Os petistas não contestam o direito que Palocci tinha de exercer uma atividade privada quando saiu do governo em 2006 e de ter sucesso nela. O que causou espanto e levou os petistas a não apoiarem sua permanência no governo, foi a origem de seus ganhos privados (orientar os negócios de grandes empresas), a magnitude dos resultados (dezenas de milhões de reais), e o alto padrão de vida que ele se concedeu (representado pelo investimento em moradia fora de sua própria origem de classe média).

“Nós, petistas, éramos ‘de fora’ nos tornamos ‘de dentro’ do Estado brasileiro.

Até hoje a elite rica ou a classe média alta de doutores não simpatiza com ver lá essa geração vinda dos movimentos de trabalhadores. (…) Quando estávamos perto do poder ou nele, as empresas privadas ajudaram nossas campanhas e procuraram nos aproximar delas.

Queremos o financiamento público dos partidos para não depender delas. Respeitamos os empresários, mas com a devida distância.

“Não queremos sair do que fomos. Sabemos que as relações econômicas e as condições materiais de vida terminam moldando ideias e ações. São milenares as reflexões que alertam para isso.

“... é essencial sermos, como temos sido: fiéis, na nossa vida pessoal e política, aos milhões e milhões de brasileiros que têm votado e confiado em nós. É legítimo para nós progredir ao longo da vida, desde que todos cresçam na mesma medida em que o bem-estar do povo cresce.

“... para continuarmos a ser um partido dos trabalhadores, não é bom que cultivemos o ideal de empresários”.

É difícil não concordar com o secretário geral do PT, ainda que se possa não estar inteiramente de acordo com uma ou outra colocação. O que mostra o texto, sobretudo, é que Palocci era uma debilidade do governo, um fator de estreitamento da sua base social e política - e de seu projeto.
CARLOS LOPES

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