Copom faz terrorismo com a inflação por juro “prolongado”
Órgão do Banco Central diz que os juros devem subir por causa das “incertezas”
Monetária do Banco Central (Copom), publicada no dia 28, sintetiza assim, em seu parágrafo 30, as suas conclusões: “O Copom entende, de forma unânime que, diante das incertezas quanto ao grau de persistência das pressões inflacionárias recentes, e da complexidade que envolve hoje o ambiente internacional, o ajuste total da taxa básica de juros deve ser, a partir desta reunião, suficientemente prolongado” (grifo nosso).
“Incertezas”? “Complexidade”? “Ajuste total”? “Suficientemente prolongado”? Nenhum empresário, nenhum trabalhador, nenhum cidadão do país tomaria a decisão de quebrar a sua empresa, sacrificar a família ou morrer de jejum porque não sabe o que vai acontecer, ou porque as coisas são muito “complexas”. No Brasil, somente o Copom/BC faz isso – e com toda a economia nacional.
Por que aumentos de juros, e juros altos “prolongados”, se o BC não tem certeza alguma sobre a “persistência” das supostas “pressões inflacionárias”? Naturalmente, porque o objetivo desses aumentos de juros não é combater a inflação.
O que o BC está fazendo é aumentar ainda mais os atrativos (isto é, o diferencial de juros em relação aos EUA e outros países onde os juros estão negativos) para que bilhões de dólares desvalorizados invadam ainda mais a nossa economia, hipervalorizem o real, e, com essa monstruosidade cambial, dando um subsídio, aliás, aumentando o dumping cambial a favor das mercadorias importadas. Em suma, o BC está devastando a indústria, portanto o crescimento, tanto pela ação direta dos juros, quanto pela ação do câmbio aberrante que esses juros provocam.
Para isso, recorre pura e simplesmente ao terrorismo. Vejamos a terrível inflação que é o tema dos dois primeiros parágrafos da ata:
“A inflação medida pela variação mensal do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) situou-se em 0,79% em março, depois de registrar alta de 0,80% em fevereiro. Assim, a inflação acumulada nos últimos doze meses alcançou 6,30% em março (6,01% em fevereiro e 5,99% em janeiro), 1,13 ponto percentual (p.p.) acima da observada no acumulado em doze meses até março de 2010. O aumento da inflação nesse período refletiu, basicamente, o comportamento dos preços livres, que variaram 7,04%, enquanto os preços administrados se elevaram em 4,53% (4,67% no mesmo período de 2010). Especificamente sobre os preços livres, cabe destacar que a variação dos preços dos bens comercializáveis alcançou 6,04%, e a dos não comercializáveis, 7,93%. A inflação no setor de serviços continua em patamar elevado e, no acumulado em doze meses até março, atingiu 8,53%, maior variação desde agosto de 1997. Em síntese, o conjunto de informações disponíveis sugere que a aceleração de preços observada em 2010, processo liderado pelos preços livres, mostra persistência”.
Entretanto, apesar dessa anunciação do apocalipse, a inflação está dentro da meta definida pela Fazenda e pelo BC no Conselho Monetário Nacional. Então, qual o significado dessa diarreia vocabular na ata do Copom? Vejamos a publicação do IBGE de onde o Copom extraiu os números acima.
Constata o IBGE que o aumento no IPCA de março foi devido, em mais da metade, aos transportes (+1,56%) e aos alimentos e bebidas (+0,75%). Quanto ao último item, houve redução nos aumentos desde janeiro, e, no caso das carnes, redução de preço (-2,81% em fevereiro e -1,42% em março). Em relação ao ano passado, a própria ata do Copom menciona que “a alta observada no grupo alimentação e bebidas ficou abaixo da inflação observada para esse grupo entre janeiro e março de 2010”.
Quanto aos transportes, “destacaram-se as passagens aéreas que (…) tiveram aumento de 29,13%. Lideraram assim, a relação das principais contribuições individuais [ao aumento no preço dos transportes]” (cf. IBGE, “Índices Nacionais de Preços ao Consumidor IPCA e INPC”, grifo nosso).
Devemos convir que um aumento dos transportes “liderado pelas passagens aéreas” está longe de ser uma tragédia para o controle da inflação. As outras “pressões inflacionárias” neste item foram:
1) três reajustes (em Curitiba, Fortaleza e Porto Alegre) dos ônibus urbanos, que, mesmo assim, tiveram “o ritmo de crescimento de preços reduzido de 1,30% para 0,95%” (cf. IBGE, op. cit.);
2) alguns outros reajustes, com peso quase insignificante no cômputo geral: ônibus intermunicipais (SP e PR), metrô de São Paulo e trens (SP e RJ);
3) o aumento de preço do etanol (+10,78% em março), que contaminou a gasolina (+1,97%).
Quanto aos reajustes dos ônibus urbanos, é óbvio que eles não se repetem a cada mês. Quanto ao etanol, os juros não vão combater o que é uma consequência da monopolização e desnacionalização da sua produção – o mais provável é que os monopólios repassem qualquer aumento de custos aos preços. A única solução para esse problema é combater a monopolização e a desnacionalização – ou, dentro em breve, estaremos reféns de alguns gangsters externos do etanol, se é que já não estamos.
Com isso, leitor, não estamos dizendo que a inflação não existe. Mas o que o Copom/BC está fazendo é mero terrorismo inflacionário para aumentar os juros. Nada tem a ver com a inflação real.
Voltando aos alimentos, a principal origem dos aumentos de preços é externa – a especulação nas bolsas dos EUA. Aqui, a solução é reconstruir as defesas contra a especulação externa, vale dizer, sobretudo, estoques reguladores sob controle do Estado. Como pode o país viver à mercê de alguns achacadores que nunca viram um tomateiro, mas determinam, à distância, o preço do tomate?
No entanto, o que diz o Copom/BC? O seguinte: “riscos baixos para a inflação subjacente no curto prazo tendem a reduzir incertezas em relação ao comportamento futuro da inflação plena. (…) riscos baixos para a inflação subjacente no curto prazo tendem a potencializar os efeitos das ações de política monetária [i.é, do aumento de juros]”.
Inflação “subjacente” é aquela que é expurgada dos itens que tiveram maior aumento de preços. Portanto, o BC está pregando (e praticando) que se reprima a demanda (isto é, que se force a redução do consumo) daqueles itens que não influenciaram o aumento da inflação, pois sabe que o aumento de juros é inútil para combater os aumentos de preços reais, o aumento da inflação real. De passagem, a ata diz que “um risco importante reside na possibilidade de concessão de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade e suas repercussões negativas sobre a dinâmica da inflação”.
Como qualquer trabalhador sabe, não existem “aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade” porque os empresários não são malucos – nem o governo. Portanto, o BC está, simplesmente, pregando o arrocho salarial.
Em suma, como os juros não têm efeito algum sobre o que realmente determina a inflação, que o povo consuma menos o que não tem relação com a inflação.
Naturalmente, isso não resolve qualquer problema, mas eles acham que o índice de inflação fica uma beleza - às custas do arrocho e sofrimento da população. E, antes de tudo, os bancos, com juros maiores, ficam com os cofres mais cheios.
CARLOS LOPES
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