sábado, 2 de abril de 2011

Líbia: tirar adversário para montar governo amigo



O que assistimos de fato na Líbia é a repetição da história...

 A mídia pode gastar tinta e papel, páginas e páginas de jornais e revistas, as emissoras de rádio e TV dedicarem horas ao noticiário, e a Internet ficar abarrotada de notícias dando conta do contrário. Mas o que estamos assistindo de fato na Líbia é a repetição da intervenção, pura e simples, de potências militares em um conflito civil num país soberano a pretexto de defender os direitos humanos.

Os pretextos mudam só nas definições mentirosas, mas são isso - mero pretexto para tomar partido em guerras civis, derrubar adversários para instalar governos amigos e se apoderar da economia ou dos recursos naturais de países, como aconteceu à exaustão na América Latina.

É a repetição do que houve, no passado, de parte dos Estados Unidos, como nos governos Ronald Reagan num pequeno país, Granada; e Lindon Johnson na República Dominicana. Nesta, em 1965, a razão alegada era a defesa da vida de civis norte-americanos e desta intervenção, infelizmente, o Brasil participou até com tropas enviadas, pelo então presidente-marechal Castelo Branco.

Resolução não fala em derrubar Kaddhafi

Na Líbia, agora, a resolução 1973 aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas não falava em derrubar o presidente Muamar Kaddhafi. Tampouco em apoiar os insurgentes e rebeldes, mas era em defesa da população civil, indefesa e inocente, agora vítima dos covardes e brutais ataques de aviões da França e da Grã-Bretanha.

O argumento irrefutável era que Kaddhafi com sua aviação ia bombardear Bengazi, uma cidade indefesa e aberta, apresentada como fortaleza dos rebeldes. Mas, agora, a aviação do governo e suas defesas antiaéreas estão destruídas, e a capital líbia, Trípoli, tão aberta e indefesa quanto Bengazi, é castigada diariamente por ataques aéreos sob a coordenação da OTAN.

Daí o justo protesto do representante da Rússia na ONU e de seu governo, via Ministério das Relações Exteriores, exigindo o estrito cumprimento da resolução. Mais grave, ainda, é a omissão, cumplicidade e a intervenção militar e política aberta dos EUA e das monarquias ditatoriais do Golfo Pérsico para apoiar governos como os do Bahrein e Iêmen.
Na Líbia, se sobrar país...

Em nome do quê? Agora, no Bahrein e no Iêmen, em nome da “luta” contra o terrorismo e a Al Qaeda, da estabilidade da região - e não em nome do que realmente causa as intervenções e invasões: a defesa dos governos amigos e do acesso seguro das potências ao petróleo barato e fácil.

Na Líbia, como aconteceu no Iraque, quando a guerra acabar, se sobrar país e se ela não se desintegrar - como a Somália - empresas norte-americanas dominarão a economia e o petróleo e um governo amigo estará instalado em Trípoli. Haja hipocrisia e covardia naqueles que apoiam semelhante fraude histórica.

José Dirceu

Publicado no dia 29 de março no blog do Zé

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