sábado, 2 de abril de 2011

Banco Central reduz ‘previsão’ de crescimento da economia para 4%


A cada novo relatório divulgado pelo BC a projeção de crescimento do país é encolhida

No relatório trimestral de inflação divulgado na quarta-feira (30), o Banco Central reduziu a projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano de 4,5%, constante no relatório anterior, para 4%. O próprio BC reconhece que o arrefecimento da economia é resultante dos juros altos e das medidas de restrições de crédito adotada no final do ano passado. “Prospectivamente, a tendência de acomodação da atividade econômica deve persistir nos próximos meses, refletindo as ações de política monetária e de caráter macroprudencial”, diz o relatório.

O BC segue a mesma linha do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que também vem diminuindo a estimativa da expansão da economia. Na primeira reunião ministerial deste ano, em 15 de janeiro, Mantega apontou um crescimento médio de 5,9% entre 2011 e 2014. Já no início de fevereiro, ao anunciar o pacote de corte de R$ 50 bilhões no Orçamento, apontou um crescimento de 5% para este ano, considerando “um nível alto de crescimento para a economia brasileira”.

Assim, com a obsessiva busca pela desaceleração econômica, daqui a pouco o BC vai acabar exumando o PIB potencial de 3,5%, o qual condena o país a um crescimento vegetativo sob o falso argumento de que o país não pode ter uma expansão acima disso sob pena de um descontrole inflacionário. Aliás, Lula instituiu o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) exatamente para ultrapassar essa lógica contracionista, bem ao gosto dos neoliberais.

Crescimento do PIB de apenas 4% significa uma queda acentuada da atividade econômica, daí a necessidade de retração dos investimentos e corte de custeio. Em seu discurso o presidente do BC, Alexandre Tombini, na audiência pública da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, afirmou que é preciso conter o ritmo da demanda interna para segurar as pressões inflacionárias, em contraposição à presidente Dilma, que dias antes havia dito que não há inflação de demanda no país.

Conforme o relatório, a previsão do crescimento do PIB de 4% é porque “a economia tem se deslocado para uma trajetória mais condizente com o equilíbrio de longo prazo e que essa trajetória se alinha às perspectivas de diminuição do descompasso existente entre o crescimento da absorção doméstica e a capacidade de expansão da oferta”. Se há uma oferta incapaz de fazer frente à demanda, para o BC a única solução é impedir o povo de consumir – e tome aumento dos juros -, jamais em facilitar a ampliação da oferta, isto é da produção. Mas para isso precisaria diminuir os juros, o que é incompatível para um PIB de 4%.

É digno de nota a propensão para a fuga da realidade, para não dizer empulhação. Ao registrar que houve déficit nas transações correntes (balança comercial, serviços e renda e transferências unilaterais) no ano passado, o relatório do BC aponta que o mesmo “refletiu o forte ritmo da atividade econômica interna. Um componente importante desse déficit tem sido as remessas de lucros e dividendos, repercutindo o dinamismo da atividade empresarial”. Primeiro: as remessas de vultosos recursos das filiais das multinacionais para suas matrizes – principalmente em um momento de crise - não têm nada a ver com dinamismo empresarial algum, mas com o alto grau de desnacionalização da economia brasileira. Segundo: além das remessas para o exterior, o déficit em conta corrente se dá pelo crescimento acelerado das importações das multinacionais, favorecidas ainda pelos juros estratosféricos do BC que sobrevalorizam artificialmente o câmbio. Resultado: o saldo da balança comercial tem diminuído a cada ano.

“Para 2011, projeta-se moderação no crescimento do déficit em conta corrente, financiável, essencialmente, por ingressos líquidos de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED)”, registra o documento. Segundo o último relatório do BC sobre o setor externo, em 2010 as transações ficaram negativas em US$ 47,518 bilhões (2,29% do PIB). Para este ano, o BC estima que haverá um rombo de cerca de US$ 64 bilhões, o equivalente a 2,85% do PIB. É só comparar os resultados para se verificar que não há moderação alguma no crescimento do déficit em conta corrente.

Por outro lado, o BC não deixa de constatar que “os investimentos em portfólio [capitais especulativos] no país deverão permanecer significativos”. Claro, a montanha de dólares sem lastro – “abundante liquidez internacional” – emitida pelos EUA ao deflagrar a guerra cambial é atraída pelos maiores juros do mundo. Pior para o câmbio, para as exportações, para a indústria e para as contas externas. Mas tudo a ver com a derrubada do PIB para 4%.
VALDO ALBUQUERQUE

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