domingo, 7 de abril de 2013

Disciplina bancária, mera ilusão de ótica!



O negócio da banca (no sentido de ser um instrumento para reunir a poupança e conceder crédito) é sério demais para ser confiado a banqueiros privados. Ao cada vez mais utilizar dinheiro público, se beneficiar de garantias do Estado e ter a função prestar um serviço de base fundamental à sociedade, os bancos devem ser socializados e colocados sob controle cidadão.




“Os mercados tornaram-se demasiado grandes e complexos e evoluíram demasiado depressa para continuarem sujeitos à supervisão e à regulação do século XX. Não é de estranhar que esse Leviatã financeiro mundial esteja para lá dos horizontes de compreensão dos operadores do mercado, mesmo dos mais avisados. Os reguladores financeiros são responsáveis por supervisionar um sistema muito mais complexo do que aquele que existia quando foram redigidos os regulamentos que ainda hoje regem os mercados”. 

Essa afirmação de Alan Greenspan, presidente da Reserva Federal de 1987 a 2006, foi adotada por todos os governantes dos países mais industrializados. Agiram como se os bancos e as sociedades financeiras privadas se autodisciplinassem ao tentarem satisfazer os seus interesses particulares, egoístas. Alan Greenspan continua: “a supervisão das transações faz-se daqui para frente, sobretudo, graças ao controlo recíproco dos operadores. Para proteger os seus acionistas, cada credor mantém atualizadas as posições de investimento dos seus clientes. Os reguladores podem sempre alegar que estão atentos, mas as suas capacidades são muito limitadas”. 

A suposta capacidade de os bancos e outros investidores institucionais se autorregularem é apenas uma forma de atirar areia para os olhos, permitindo que façam o que lhes apetece. Alan Greenspan, governantes dos países industrializados, um exército de especialistas e de comentadores financeiros, verdadeiros ilusionistas, tomam os cidadãos por cretinos e repetem a fábula da autorregulação dos mercados até à náusea. “Os mercados tornaram-se demasiado complexos para uma intervenção humana eficaz, as políticas anticrise mais promissoras são as que mantêm a máxima flexibilidade do mercado: a liberdade de ação dos principais atores do mercado, tais como ‘hedge funds’, fundos privados de ações e bancos de investimento”. 

O cataclismo financeiro de 2007-2008 e os seus efeitos dramáticos a longo prazo contrariam e desmentem, de forma pungente, essas fábulas. Os atores dos mercados financeiros são totalmente incapazes de se autorregularem, não o desejam e muito menos o querem. É a evidência demonstrada por todas as crises financeiras que têm caracterizado a história do capitalismo. Os governantes adotaram, entretanto, outro discurso: “A autorregulação, como forma de resolver todos os problemas, acabou. O laissez-faire acabou. O mercado que tem sempre razão acabou”. Na verdade, seis anos após o início da crise, cinco anos após o anúncio de um regresso a uma maior regulação, o balanço limita-se, em grande parte, aos efeitos desses anúncios. Associados aos banqueiros, os governantes e os legisladores têm adotado muito poucas medidas restritivas em relação às sociedades financeiras.

Uma medida restritiva num mar de laxismo
Desde 1 de Novembro de 2012, na União Europeia, é proibido comprar um ‘credit default swap’ (CDS – ver caixa) como proteção contra o risco de não reembolso de uma dívida de um Estado, no caso de não se possuir essa dívida. As sanções contra as empresas e as pessoas que violam essa proibição não estão definidas, sendo essa definição da responsabilidade dos Estados. Isso dá uma considerável margem de manobra aos bancos e a outras instituições financeiras que queiram contornar ou violar a proibição. Trata-se da única medida significativa tomada pelas autoridades europeias para pôr em ordem o setor financeiro.

A Lei Dodd Franck nos Estados Unidos e os tímidos passos europeus

Nos Estados Unidos, uma nova legislação, tímida em comparação com a regulamentação imposta por Franklin D. Roosevelt em 1933 (ver caixa), foi adotada durante o primeiro mandato de Barack Obama. Trata-se da Lei Dodd-Frank (que inclui a Norma Volcker). Apesar de a Lei Frank Dodd ter sido aprovada em 2010, a sua implementação tarda. Os bancos e os seus lobbies, assim como parlamentares republicanos e democratas, que sofrem a influência direta dos primeiros, conseguiram limitar grandemente a implementação de uma lei que já por si é tímida.

No Reino Unido, a Comissão Vickers apresentou, em 2011, as suas recomendações às autoridades, que devem agora tomar uma decisão. Na União Europeia, uma comissão liderada por Erkki Liikanen, governador do Banco Nacional da Finlândia, apresentou o seu relatório em outubro de 2012. As recomendações contidas nos relatórios das Comissões Vikers e Liikanen vão grosso modo no mesmo sentido das Leis Dodd-Frank e da Norma Volcker: o princípio da separação das atividades múltiplas dos bancos. Mas nenhuma propõe o regresso à Lei Glass-Steagall e às regulamentações adotadas na altura na Europa no mesmo âmbito. Nenhuma propõe a separação clara entre bancos de depósito e bancos de investimento, ou seja, o desmantelamento do que é hoje designado por banco universal. De recordar que o banco universal (chamado também banco faz-tudo ou banco generalista) é um grande conjunto financeiro, reagrupando e exercendo as diversas tarefas da banca de retalho, da banca de financiamento e de investimento e da banca de gestão de ativos. Esse conjunto intervém no território nacional, mas também no estrangeiro através das suas filiais. O maior risco desse modelo bancário consiste em fazer com que as perdas e os riscos da atividade dos bancos de financiamento e de investimento sejam suportados pela banca de retalho, pondo assim em perigo os haveres dos pequenos aforradores. É isso que explica a atualidade das medidas tomadas por Roosevelt e, no seu rasto, nos anos trinta e quarenta, pelos governos europeus, no sentido de separar radicalmente os bancos em duas categorias estanques.

A Lei Dodd Frank, as propostas das Comissões Vickers e Liikanen, o projeto de lei sobre a reforma do sistema bancário apresentado pelo Governo francês, na Assembleia Nacional, em dezembro de 2012, ficaram pelo caminho e preveem apenas divisões que se revelarão (se um dia forem aplicadas) de uma eficácia muito limitada, porque os bancos de investimento e de negócio não hesitarão em apoiar-se nos depósitos dos clientes e continuarão a assumir riscos muito elevados. É que nenhuma medida restritiva foi até hoje implementada a sério. Além disso, sendo os bancos de varejo e os bancos de financiamento e de investimento partes integrantes do banco universal, as perdas ocorridas no banco de investimento serão suportadas pela banca de retalho (ver em França as perdas do Natixis que foram suportadas pelo Banco Popular e Caisse d’Epargne no âmbito do grupo BPCE).

Os bancos pressionam de todas as formas para continuarem a agir como lhes apetece
Apesar de as recomendações de Vickers e Liikanen serem muito conciliadoras a favor dos bancos, os donos de bancos privados criam, como nos Estados Unidos, um intenso lobby para que as recomendações não sejam aplicadas. ‘Challenges’, um semanário financeiro francês, relata as reações do meio bancário do Hexágono, a propósito do Relatório Liikanen. “Muitos desses relatórios acabaram no lixo”, confidencia um dos banqueiros em declarações ao Challenges. “Liikanen? Ele sabe lá o que é um banco”, ironiza outro. “Na Finlândia, há apenas filiais de estabelecimentos estrangeiros”. ‘Challenges’ conta mais uma história, dando a palavra a Martin Wolf, editorialista do ‘Financial Times’: “Temo que, sob pressão dos banqueiros, muitas atividades de mercado [trading] sejam excluídas da separação. Esse relatório é um passo em frente, será preciso que a próxima etapa não seja um passo atrás”. Precisamente, o ‘Financial Times’ fez também a sua pequena pesquisa sobre o setor bancário. Christian Clausen, patrão do banco sueco Nordea que preside à Federação Bancária Europeia, declarou ao jornal que o Relatório Liikanen está completamente errado em relação à separação entre as atividades da banca de retalho e as atividades de trading. Parlamentares norte-americanos e europeus, sem falar de altos funcionários, têm sido submetidos a intensas pressões. Os bancos podem contar com aliados sólidos colocados ao mais alto nível, a começar por Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, ex-dirigente do Goldman Sachs.

Entre as autoridades de supervisão, erguem-se algumas vozes isoladas contra o laxismo
Do lado das autoridades de supervisão, surgem algumas vozes isoladas criticando a inexistência de uma regulação séria do setor bancário. Andrew Haldane, diretor do departamento de estabilidade financeira do Banco de Inglaterra, fez-se ouvir durante uma reunião dos meios financeiros, em Londres, em outubro de 2012. Criticou o facto de os 29 bancos sistémicos (ver caixa) beneficiarem do perigo que pode representar a sua incapacidade de gerir bem o dinheiro do BCE, da Fed, do Banco de Inglaterra... Haldane considera que o crédito que essas instituições públicas concedem aos bancos constitui uma subvenção anual de mais de 700 mil milhões de dólares.

Andrew Haldane afirma que o aumento do ‘ratio’ entre os fundos próprios e o balanço dos bancos, que será generalizado a partir de 2018-2019, é completamente insuficiente e não permitirá, de fato, reduzir os riscos e os efeitos das falências. Haldane recomenda a redução drástica do tamanho dos bancos. Thomas Hoenig, da US Federal Deposit Insurance Corporation, a instituição criada durante a presidência de Roosevelt para regular o sistema bancário, diz que a divisão adotada para separar os diferentes tipos de atividade dos bancos é muito porosa. Apela para que seja adotada uma lei do tipo Glass-Steagall para separar radicalmente os bancos de depósito e os bancos de negócio. Estima também que o nível de fundos próprios que será exigido em 2018-2019 deve ser, pelo menos, multiplicado por três.

Epílogo: 

A vitória dos banqueiros deve-se às autoridades de supervisão
A partir de janeiro de 2013, o Comité de Basileia renuncia à aplicação de uma das exigências que tinha apresentado em relação aos bancos. Os bancos não deverão constituir um amortecedor de choques financeiros, sob a forma de uma reserva permanente de liquidez (‘liquidity coverage ratio’, LCR), que permitiria fazer face a uma crise de trinta dias. Estava previsto que a medida entrasse em vigor em 2015; foi agora adiada para 2019! Na primeira página, os jornais financeiros sublinharam claramente tratar-se de uma vitória dos bancos e de um recuo das autoridades de supervisão. O Financial Times intitulava em manchete, na edição de 8 de janeiro de 2013: “Vitória dos bancos europeus após afrouxamento das regras de Basileia”. Primeira página da ‘The Economist’: “Reguladores suavizam posição em matéria de liquidez”. Não só a aplicação das medidas é adiada para 2019, para não dizer para as calendas gregas, como também a maioria dos bancos pode contabilizar, na reserva de liquidez (LCR), produtos estruturados e tóxicos como os ‘mortgage backed securities’. É à grande, vale tudo!

Algumas semanas mais tarde, mais notícias foram do agrado dos bancos. Michel Barnier, Comissário Europeu responsável pelos mercados financeiros, declarou que não seguiria a recomendação principal do Relatório Liikanen sobre a separação entre bancos de depósito e atividades de mercado. O ‘Financial Times’ escrevia “Recuo de Bruxelas face ao âmago da reforma bancária”. O jornal explica que a Comissão Europeia recua perante a obrigação de impor aos bancos a separação entre as atividades de mercado (leia-se, altamente especulativas e de risco) e as atividades dos bancos de depósito.

Conclusão

É preciso acabar com a submissão às exigências dos bancos. Optando por uma virada radical, é possível proteger as contas dos depositantes, financiar as atividades que favorecem os bens comuns, garantir o emprego e as condições de trabalho dos funcionários do setor. Para isto, é preciso um serviço público de poupança, de crédito e de investimento. O negócio da banca (no sentido de ser um instrumento para reunir a poupança e conceder crédito) é sério demais para ser confiado a banqueiros privados que, por definição, procuram maximizar o benefício de um punhado de grandes proprietários privados (o 1%, como são designados pelo movimento Occupy Wall Street). É preciso proibir as atividades especulativas e todos os instrumentos financeiros que as suportam. Da mesma forma, é preciso proibir as transações com paraísos fiscais. Utilizando dinheiro público, beneficiando de garantias do Estado e sendo a sua função prestar um serviço de base fundamental à sociedade, os bancos devem ser socializados e colocados sob controle cidadão.

QUAL É O PAPEL DA MÍDIA NA CONSTRUÇÃO DE UMA BOLHA?


:
Não houve revista semanal no Brasil que não tenha dedicado reportagem de capa ao empresário Eike Batista e quase todas foram laudatórias; numa delas, de Veja, ele foi saudado até como Eike Xiaoping, como se estivesse ensinando ao Brasil que "enriquecer é glorioso"; nos próximos dias, grandes bancos privados, o BNDES e o governo estarão tendo que lidar com a provável reestruturação das dívidas bilionárias do grupo EBX; quem acreditou na onda, hoje conta os prejuízos.



quinta-feira, 4 de abril de 2013

VICE


Brasil: Partidos e movimentos solidarizam-se com a Coreia Popular




Movimentos, partidos e meios de comunicação progressistas e anti-imperialistas enviaram nesta teça-feira (2) uma declaração de solidariedade e apoio à embaixada da República Popular e Democrática da Coreia em Brasília. 


A escalada da tensão na Península Coreana, com a participação direta dos Estados Unidos, tem aumentado a pressão e a preocupação com um possível conflito internacional, apesar dos pedidos reiterados por diálogo enquanto a Coreia do Sul, apoiada pelos EUA, toma medidas belicistas. 

Neste contexto, movimentos e partidos brasileiros que lutam contra o imperialismo belicista e pela manutenção da paz e da soberania das nações enviaram a seguinte declaração à embaixada da Coreia Popular:

Senhor Embaixador da República Popular e Democrática da Coreia;

A campanha de uma guerra nuclear desenvolvida pelos Estados Unidos contra a República Democrática Popular da Coreia passou dos limites e chegou à perigosa fase de combate real.
Apesar de repetidos avisos da RDP da Coréia, os Estados Unidos tem enviado para a Coréia do Sul os bombardeios nucleares estratégicos B-52 e, em seguida, outros meios sofisticados como aeronaves Stealth B-2, dentre outras armas.

Os exercícios com esses bombardeios contra a RDP da Coréia são ações que servem para desafiar e provocar uma reação nunca antes vista e torna a situação intolerável.

As atuais situações criadas na península coreana e as maquinações de guerra nuclear dos EUA e sua fantoche aliada Coréia do Sul além de seus parceiros que ameaçam a paz no mundo e da região, nos levam a afirmar:

1. Nosso total, irrestrito e absoluto apoio e solidariedade à luta do povo coreano para defender a soberania e a dignidade nacional do país;

2. Lutaremos para que o mundo se mobilize para que os Estados Unidos e Coréia do Sul devem cessar imediatamente os exercícios de guerra nuclear contra a RDP da Coréia;

3. Incentivaremos a humanidade e os povos progressistas de todo o mundo e que se opõem a guerra, que se manifestem com o objetivo de manter a Paz contra a coerção e as arbitrariedades do terrorismo dos EUA.

Conscientes de estarmos contribuindo e promovendo um ato de fé revolucionária pela paz mundial, as entidades abaixo manifestam esse apoio e solidariedade.

Brasília, 02 de abril de 2013.
PCdoB, PT, PSB, Cebrapaz, CUT, MST, MDD, UJS, UNE, Unegro, Unipop, CDRI, CDR/DF, MPS, CMP, CPB, Telesur, TV Comunitária de Brasília, Jornal Revolução Socialista.

PETROBRÁS É NOSSA!


Discurso do Senador Roberto Requião na tribuna do Senado Federal, no dia 27/03/13:

          "Nesses últimos dias, dois assuntos têm absorvido os discursos da oposição, no plenário e na mídia, esta cada vez mais pauteira  e porta-voz dos partidos da minoria.  A Petrobrás e as viagens de Dilma e Lula, estes os temas recorrentes.
         
Vamos ao primeiro item.
        
 A mídia e a oposição desancam a quase Petrobrax à conta de ditos prejuízos daquase estatal. A empresa teria se envolvido em algumas jogadas no mercado e tomado na cabeça.
        
 Declaro-me um tanto quanto confuso com esse repentino zelo dos liberais, dos fundamentalistas da livre concorrência com as altas e baixas das ações da indigitada,  com os prejuízos para os investidores.
          
Com toda humildade, pergunto: não faz parte do jogo das bolsas?  Esse não é um dos pilares da sabedoria da economia de mercado, por sua vez sustentáculo do maravilhoso mundo da democracia de mercado?
      
De um lado, exigem da estatal –ou semi estatal, sei lá-- requerem dela comportamento e operosidade de empresa privada, condenam seus açambarcamentos, seus privilégios; todavia,  mais adiante, lembram de sua porção Mr. Hyde e reclamam que ela,  mesmo que sujeita às oscilações e aventuras mercadistas, aja como a contraface do monstro.
      
Mas, senhoras e senhores senadores, a oposição e a mídia silenciam, omitem-se e assim acobertam o verdadeiro escândalo que o governo e a Agência  Nacional de Petróleo vão patrocinar, com data e hora marcadas.
      
 Não ouço das irmãs siamesas –oposição e mídia- nenhum pio, por miúdo que fosse. Tão diligentes, tão cuidadosas  com as trapalhadas petrolíferas da Petrobrás no mercado, calam-se diante deste mega escândalo que se anuncia.
       
Ficaria encantado se oposição, também neste caso,  manifestasse ímpetos de verde-amarelismo, como no caso que a entretém.
     
O escândalo vai acontecer nos dias 14 e 15 de maio próximo. Nestes dias, a Agência Nacional de Petróleo leiloa 289 blocos de reservas de petróleo, distribuídos por 11 bacias sedimentares. A senhora Magda Chambriand, diretora-geral da Agência, estima que o potencial desses 11 blocos possa somar um volume de 30 bilhões de barris de óleo.
       
 E atenção, senhoras e senhoras senadores. As reservas brasileiras de petróleo conhecidas hoje somam 14 bilhões de barris. Logo, o governo vai entregar para o mercado duas vezes mais que as nossas reservas conhecidas. E quem serão os felizardos ganhadores desse mega leilão?
    
Emanuel Cancella, diretor do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro e da Federação Nacional dos Petroleiros, faz uma gravíssima observação, em artigo publicado no sítio do jornalista Luís Carlos Azenha.
        
Diz ele que, se nos leilões anteriores, a Petrobrás “teve uma posição arrojada, arrematando a maior parte dos blocos, reduzindo as perdas para a nação, desta vez a empresa entrará na disputa de mãos atadas, sob a síndrome do prejuízo que lhe foi imputado falsamente, já que teve um lucro de 21 bilhões de reais”.
     
E isso é verdade. Ao contrário da disposição manifestada nos leilões anteriores, vê-se uma Petrobrás acuada, diminuída, sensível à pesadíssima barragem de notícias negativas, dos ataques, e da manipulação de informações de que está sendo vítima.
     
A senhora Foster, fazendo poses de executiva responsável, gasta todo o seu tempo para acalmar e agradar  a oposição,  a mídia e o mercado. Reage com extrema timidez e excesso de bons modos à corrosão da imagem da empresa.
     
A mesma reação tíbia da  base do governo, a que pertenço, e do próprio governo.
          
Cancella lembra que as mudanças da lei do petróleo, no governo Lula, adotando o modelo de compartilhamento e fazendo da  Petrobrás  operadora única do pré-sal, despertou a ira dos multinacionais.
      
Mas, diz o sindicalista, citando telegramas trocados entre as multinacionais vazados pelo Wikileaks, elas decidiram agir com cautela  “para não despertar o nacionalismo dos brasileiros”.
      
Talvez a cautela dê bons resultados no próximo leilão, diante de uma Petrobrás fragilizada pelos ataques.
      
 Não quero dizer que a oposição esteja agindo em conluio com as sete irmãs, e algumas primas, do petróleo mundial. Embora, às vezes, a mais alucinada das teorias da conspiração revele-se verdade factual.
        
E eu que já declarei aqui ter medo de fantasmas, dessas almas penadas que teimam nos assombrar com  as idéias fossilizadas da casa grande, reconheço que também acredito em bruxas e conspirações
       
Além da barragem de fogo da mídia, da oposição e do mercado, Emanuel Cancella  alerta ainda que a interminável discussão sobre os royalties do petróleo desvia a atenção dos brasileiros da 11ª rodada de leilões da ANP:
     
“Os royalties funcionam como “boi de piranha”. Mas enquanto as piranhas comem um boi, passa a boiada. Enquanto se discute os royalties que representam 10 por cento da indústria do petróleo, as multinacionais levam os 90 por cento”, diz o sindicalista.
      
Os meios de comunicação, especialmente a Rede Globo, que promoveu uma irônica contrafação da campanha  “o petróleo é nosso”, deram uma contribuição inestimável para afastar da preocupação dos brasileiros desse atentado contra a nossa soberania.  
      
Provavelmente, não se conheça na história recente de nosso planeta uma atividade econômica tão cercada de conspirações, golpes de Estado, guerras, assassinatos, violência quanto à exploração do petróleo.
     
A disputa por essa fonte de energia marcou as grandes crises internacionais no final do século 19, durante todo o século 20  e nesta primeira década do século 21. Do o assalto norte-americano ao México, há um século,  à invasão do Iraque, que faz dez anos, até a deposição de Muamar Kadafi, há um ano, o petróleo é o senhor da guerra.
    
 O petróleo foi –e é- um  dos produtos simbólicos do neo-colonialismo, do poderio das transnacionais. O oval da Esso, a concha da Shell, a estrela da Texaco eram os alvos mais destacados, imediatos, dos povos que lutavam para sacudir o jugo imperial.
    
 As sete irmãs, e suas contraparentes nacionais, mudaram os métodos, civilizaram-se. Trocaram o “big stick” pelos afagos, por seduzir e corromper. Substituíram as tropas e os canhões pela abdução dos meios de comunicação, hoje sua infantaria na conquista da opinião pública, na submissão dos poderes constituídos,  na subordinação dos agentes públicos.
    
Como diz Emanuel Cancella.    
     
“ Perplexos, temos a impressão de estar assistindo o grande conluio entre as classes dominantes e seus representantes em todas as esferas – executivo, legislativo, judiciário, grande mídia – para desviar a atenção do que realmente importa, deixando o povo desnorteado e confuso. Parecem compactuar com o que disse o primeiro Diretor-Geral da ANP, David Zilberstein, então no governo de Fernando Henrique Cardoso, para uma platéia de megaempresários: “O petróleo é vosso!”
     
Senhoras e senhores senadores, companheiros da bancada de apoio ao governo, senhores do governo, senhora e senhores da Petrobrás, diante disso, depois disso que temos a dizer?
     
O nosso silêncio continuará sendo cúmplice, não de uma hipotética conspiração, mas de fatos que explodem à nossa frente com a violência das lições da história?"

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Direitos da criadagem, essa afronta


Por Sylvia Debossan Moretzsohn, no Observatório da Imprensa:

“Em 1871, quando o Parlamento discutia a Lei do Ventre Livre, argumentou-se que libertando-se os filhos de escravos condenavam-se as crianças ao desamparo e à mendicância. ‘Lei de Herodes’, segundo o romancista José de Alencar.

“Quatorze anos depois, tratava-se de libertar os sexagenários. Outro absurdo, pois significaria abandonar os idosos. Em 1888, veio a Abolição (a última de país americano independente), mas o medo a essa altura era menor, temendo-se apenas que os libertos caíssem na capoeira e na cachaça.

“Como dizia o Visconde de Sinimbu: ‘A escravidão é conveniente, mesmo em bem ao escravo’.” 

As referências de Elio Gaspari em artigo sobre as cotas nas universidades, publicado há um ano (25/4/2012), se aplicariam perfeitamente ao alvoroço em torno da aprovação da Proposta de Emenda Constitucional que estabelece para o trabalho doméstico os mesmos direitos das demais atividades assalariadas. Não apenas porque esse trabalho deriva historicamente da nossa herança escravocrata: também, ou talvez principalmente, porque, no campo das relações trabalhistas, notórios “especialistas” são recorrentemente convocados a bater na tecla do direito como um entrave à livre negociação entre as partes, como se essas partes estivessem em pé de igualdade.

Não só na vida privada se recorre a eufemismos para nomear os subalternos: também nas grandes empresas começa a se disseminar o costume de chamar seus empregados por “colaboradores”, o que eventualmente pode sugerir uma alteração na relação contratual, nesses tempos de “flexibilização”, mas não esconde a tentativa de riscar a palavra “trabalhador” do mundo do capital. O que não altera a relação de exploração, mas pode mascará-la por esses artifícios de linguagem.

A lógica invertida

Foi, portanto, previsivelmente por essa lógica invertida – e pervertida – que os principais jornais pautaram suas reportagens sobre a PEC das Domésticas: chamando os “especialistas” de sempre para alertar para o risco de desemprego e o estímulo à informalidade que a lei provocaria, e para o transtorno que as novas obrigações representariam: calcular horas extras, recolher FGTS, pagar auxílio-creche exigiriam a contratação dos serviços de um contador e, consequentemente, mais gastos para o cidadão já massacrado por despesas de toda ordem para manter seu nível de vida – a casa, a escola e as múltiplas atividades dos filhos, o(s) carro(s), a ida a cinemas, restaurantes e shows, a academia, as festas, viagens e demais formas de lazer.

(Não deixa de ser curioso que, nas sucessivas reportagens sobre inadimplência, endividamento, aumento do custo de vida ou mesmo ecologia – sobre o desperdício de água, por exemplo – e estilo de vida, esses mesmos “especialistas” recomendem didática e pacientemente medidas de cortes de gastos ou mudança de hábitos, mas não se tenham lembrado disso no caso dos direitos das domésticas).

Ao mesmo tempo, ao montar um quadro comparativo entre as regras vigentes e as que passarão a vigorar a partir deste mês de abril, cada jornal trabalhou com os números como quis. Assim, O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo se pautaram pela comparação mais lógica entre os gastos com a empregada contratada, o que evidencia um aumento de menos de 10%. Já O Globo, além desse quadro, elaborou outro para a hipótese de dispensa da empregada, de modo a sustentar o alarme na chamada da primeira página de quinta-feira (28/3): “Doméstica: custo de demissão dobra”, embora o texto informe que esta é apenas uma possibilidade e que a indenização do FGTS ainda depende de regulamentação.

O “espaço sagrado” do (nosso) lar

Na véspera, o mesmo jornal dedicara três páginas para tratar da lei recém-aprovada. Numa delas, destacava a turbulência vivida no “espaço ‘sagrado’ do lar” – o nosso lar, naturalmente, que o das domésticas ninguém sabe onde fica – e o “estresse” pelo qual os empregadores estariam passando. Na matéria, a voz principal é de uma professora “com tese de doutorado sobre relações de consumo” e “especialista” – sempre eles – “no comportamento de empregadas domésticas”. Ela diz: “Passar de uma relação personalista para uma relação impessoal é muito doloroso porque acontece no ambiente doméstico, na casa das pessoas, onde elas estão acostumadas a ter algum tipo de sentimento de dominação” (o grifo é meu).

Acrescente-se, portanto, a terapia como mais uma despesa causada pela nova lei, para tratar de superar esse nefasto sentimento.

Mas o melhor vem a seguir: “Deixar de ter uma empregada é um pequeno grande drama na casa das pessoas porque não temos estrutura social para deixar as crianças”.

Alguém alguma vez se incomodou com a falta de estrutura social para as domésticas deixarem as suascrianças?

O abismo social

Na Folha de quarta-feira (27/3), um notório “especialista” em relações de trabalho e recursos humanos aborda esse tema pelo lado da regulamentação: “Entre os 7 milhões de domésticas do país, muitas são empregadas de um lado e empregadoras do outro – contratam pessoas” – na grande maioria dos casos, informalmente – “para tomar conta de seus filhos e de suas casas enquanto trabalham fora”.

O Globo, ao pé da matéria de domingo (31/3) que reclama de “mais custos” e “mais burocracia”, dá consistência a esse quadro, relatando o caso de Taciane Carolina da Silva, de 18 anos:

“Para trabalhar com babá numa casa da zona norte de Recife, ela deixa a filha de 2 anos, Ingrid Giovana de Moura, durante toda a semana com um pessoa que recebe R$100 por mês. Taciane, que não tem nem o ensino fundamental, soube da lei das domésticas pela televisão, mas confia na amizade para que a sua auxiliar não exija dela os mesmos direitos que sua patroa tem como obrigações.

“Afirma que, se isso ocorrer, terá que deixar o trabalho e se cadastrar no Bolsa Família, porque na cidade de Aliança, onde nasceu e vive sua filha, não há creches:

“– A escola só aceita crianças a partir de três anos.

“Taciana só pega sua filha aos sábados e devolve no domingo à noite, porque às 4h30m da segunda-feira já pega a condução para Recife, para seu trabalho.”

É preciso, portanto, ler uma reportagem até o fim, porque o mais importante pode estar ali.

As pautas ausentes

Uma menina de 18 anos que foi mãe aos 16, de precária formação escolar, que sai de madrugada para cuidar do filho alheio e só vê a própria filha nos fins de semana: não estaria aí um bom ponto de partida para uma pauta sobre esse “outro lado” que tanto descuramos?

Pistas não faltam. Muitas estão, certamente, na própria casa dos jornalistas. Mas também seção de cartas: no Globo, entre tantos protestos contra a “demagogia” do governo com a nova lei, reivindicações por um “sindicato das patroas” e manifestações raivosas contra a boa vida das domésticas ao compartilharem a casa e a mesa da classe média, uma leitora lamenta a provável hipótese de ter de dispensar sua empregada, “uma pessoa ótima”, com seis filhos, cinco dos quais menores de idade. “Minha funcionária não consegue escola para a de 14 anos porque não tem vaga. Onde ela mora, não há creche para os menores”.

Não seria o caso de, finalmente, apresentar as condições de vida dessas pessoas, suas dificuldades, seus sonhos, suas perspectivas de ascensão social?

Apenas o Estadão, e ainda assim por outro enfoque – o da trajetória de trabalhadores domésticos na direção de outro tipo de serviço, mais qualificado ou de melhor status –, investe um pouco nessa linha, ao contar a história de uma jovem do interior da Bahia, que trabalhava na roça desde criança. Como doméstica, começou aos 13 anos e, claro, “não era vista como empregada – era a ‘agregada’ que fazia todo o serviço da casa, outra herança do Brasil escravocrata”. Conseguiu ir para São Paulo, teve o apoio do novo patrão para estudar, formou-se em Letras e hoje é professora e guia de turismo.

Nos artigos, o esclarecimento

A reportagem é o espaço privilegiado do jornal, mas, fora esses breves exemplos, quem não quis se deixar levar pela excitação contra os novos direitos das domésticas precisou se socorrer no espaço de opinião dos jornais paulistas. Na Folha(quinta-feira, 28/3), o advogado Otávio Pinto e Silva (ver aqui) fala na “radical mudança cultural” a ser enfrentada mas mostra que não há motivo para alarde em relação às obrigações trabalhistas:

“É preciso estimular os empregadores domésticos a registrar os contratos de seus empregados, facilitando e desburocratizando os procedimentos relativos ao recolhimento de contribuições previdenciárias e depósitos de FGTS, com o uso da internet. Lembremos que no âmbito residencial não existe um departamento de pessoal ou de RH, encarregado de preencher guias e formulários para pagamentos bancários”.

No Estadão (sábado, 30/3), o artigo do sociólogo Ricardo Antunes (ver aqui) é um tapa na cara da arrogância dos mais ricos:

“Nossa origem escravista e patriarcal, concebida a partir da casa grande e da senzala, soube amoldar-se ao avanço das cidades. A modernização conservadora deu longevidade ao servilismo da casa grande para as famílias citadinas. As classes dominantes sempre exigiram as vantagens do urbanismo com as benesses do servilismo, com um séquito de cozinheiras, faxineiras, motoristas, babás, governantas e, mais recentemente, personal trainers para manter a forma, valets nos restaurantes para estacionar os carros, etc.” 

Antunes mostra, ao mesmo tempo, que há divisões entre a classe média – algo de que as reportagens não deram conta:

“Com as classes médias o quiproquó é maior: os seus estratos mais tradicionais e conservadores agem quase como um espelhamento deformado das classes proprietárias e vociferam a “revolta da sala de jantar”: não será estranho se começarem a defender o direito das trabalhadoras domésticas não terem os direitos ampliados. E sua bandeira principal já está indicada: são contrárias à ampliação dos direitos das trabalhadoras domésticas para lhes evitar o desemprego. 

“Nos núcleos mais intelectualizados e democráticos das classes médias, há o sentimento de que uma chaga está sendo reduzida. Percebem a justeza destes direitos sociais válidos para o conjunto da classe trabalhadora, ainda que sua conquista altere significativamente seu modo de vida. Mais próxima (ou menos distante) do cenário dos países do Norte, tende a recorrer cada vez mais ao trabalho doméstico diarista em substituição ao mensalista.”

Todo jornal tem seus compromissos de classe, mas ao mesmo tempo não pode se recusar a abrir espaço ao contraditório. Pelo menos no espaço de opinião, é possível perceber a necessidade de enfrentar o abismo social que passeia entre a sala e a cozinha e compreender que nosso bem-estar não pode se sustentar às custas da exploração do outro.

Yoani Sánchez vai a Miami encontrar-se com assassino do Che



   O tour da blogueira da CIA, Yoani Sánchez, chegou finalmente a Miami, onde foi recebida com festa pela fina flor dos gusanos, conforme o insuspeito Miami Herald. Recebeu a chave da cidade e foi paparicada no Congresso dos EUA em Washington. A blogueira chegou na quinta-feira 28 de março e se ocupou com concorridíssima programação até segunda-feira (1º de abril.). O site espanhol “Terceira Informação” havia anunciado que ela teria um encontro com o agente da CIA, Félix Rodriguez, que deu a ordem para assassinar Che Guevara em 1967 na Bolívia, e um dos organizadores da festança, por meio da Associação de Veteranos da Baía dos Porcos, grupo de renegados que vive em Miami, e do qual ele faz parte.
  
Encontro que causa uma forte repulsa em Cuba, aonde o Che é amado e idolatrado. O convite já havia sido feito, mas chegou a haver questionamento depois que a teleguiada da CIA se viu forçada a fazer pálida ponderação acerca do bloqueio, que é defendido com unhas e dentes pelos gusanos. Rodriguez foi um entusiasta da recepção a Sánchez.
  Ex-integrante da polícia secreta do ditador Fulgencio Batista, Rodriguez virou cativo no fiasco da Baía dos Porcos, sendo trocado, junto com outros mercenários, por tratores e remédios. Entre seus malfeitos, há ainda os laços com George H. W. Bush durante o escândalo Irã-Contras. Também “assessorou” a ditadura argentina.
  Mas sua carreira de agente da CIA tem como auge o episódio do assassinato de Che Guevara. Foi enviado pela CIA à Bolívia para supervisionar as operações de cerco ao heróico guerrilheiro, realizado pelo 2º Batalhão de Rangers, que operava sob a Agência. De acordo com documentos desclassificados do governo dos EUA, e entrevistas que concedeu em 1998 a uma revista espanhola, Rodriguez, que atuava sob os codinomes de Capitão Ramos ou “Gato”, recebeu pelo rádio a ordem de matar Che.
  Ele passou a ordem de execução para o sargento Jaime Terán. “Mandei Terán cumprir a ordem. Disse que ele deveria disparar embaixo do pescoço para que Che parecesse ter sido morto em combate”. Também foi Rodriguez que organizou a ocultação do cadáver.
  Aguarda-se no blog de Sánchez as vívidas impressões de tão notável encontro. Talvez por modéstia ela prive os leitores dos detalhes sórdidos.

PT não foi eleito para dar o nosso petróleo a múltis, diz Requião


Entrega de 289 lotes é escândalo nacional

Senador condena rodada de leilões marcada para os dias 14 e 15 de maio
O senador Roberto Requião (PMDB-PR) afirmou na quarta-feira, no plenário do Senado, que a barragem de críticas da oposição e da mídia ao desempenho da Petrobrás é uma artimanha “para desviar a atenção dos brasileiros para o verdadeiro escândalo que se anuncia”. “O escândalo vai acontecer nos dias 14 e 15 de maio próximo. Nestes dias, a Agência Nacional de Petróleo leiloa 289 blocos de reservas de petróleo, distribuídos por 11 bacias sedimentares, um volume de 30 bilhões de barris de óleo”, denunciou o senador.

Requião: leilão de petróleo que a ANP marcou é um escândalo  

Senador denunciou que a ANP quer dar 30 bilhões de barris às múltis, duas vezes mais que as reservas confirmadas. “Não foi para isso que elegemos o PT”
O senador Roberto Requião (PMDB-PR) afirmou na quarta-feira (27), no plenário do Senado, que a barragem de críticas da oposição e da mídia ao desempenho da Petrobrás é uma artimanha "para desviar a atenção dos brasileiros para o verdadeiro escândalo que se anuncia". "O escândalo vai acontecer nos dias 14 e 15 de maio próximo. Nestes dias, a Agência Nacional de Petróleo leiloa 289 blocos de reservas de petróleo, distribuídos por 11 bacias sedimentares. A senhora Magda Chambriard, diretora-geral da Agência, estima que o potencial desses blocos possa somar um volume de 30 bilhões de barris de óleo", denunciou o senador.
"E atenção, senhoras e senhoras senadores. As reservas brasileiras de petróleo conhecidas hoje somam 14 bilhões de barris. Logo, o governo vai entregar para o mercado duas vezes mais que as nossas reservas confirmadas", lembrou. "E quem serão os felizardos ganhadores desse mega leilão?", indagou o parlamentar. O próprio Requião respondeu, citando denúncia do sindicalista Emanuel Cancella, diretor do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro e da Federação Nacional dos Petroleiros.
"Ele [Cancella] faz uma gravíssima observação, em artigo publicado no sítio do jornalista Luís Carlos Azenha. Diz que, se nos leilões anteriores, a Petrobrás teve uma posição arrojada, arrematando a maior parte dos blocos, reduzindo as perdas para a nação, desta vez a empresa entrará na disputa de mãos atadas, sob a síndrome do prejuízo que lhe foi imputado falsamente, já que teve um lucro de 21 bilhões de reais", revela Requião.
O senador paranaense cobrou que "a oposição e a mídia falam muito de supostos erros gerenciais da estatal, mas silenciam sobre o leilão, omitem-se e assim acobertam o verdadeiro escândalo que o governo e a Agência Nacional de Petróleo vão patrocinar, com data e hora marcadas". "Não ouço das irmãs siamesas - oposição e mídia- nenhum pio, por miúdo que fosse. Tão diligentes, tão cuidadosas com as trapalhadas petrolíferas da Petrobrás no mercado, calam-se diante deste megaescândalo que se anuncia. Ficaria encantado se oposição, também neste caso, manifestasse ímpetos de verde-amarelismo, como no caso que a entretém", destacou.
Requião lembrou que "ao contrário da disposição manifestada nos leilões anteriores, vê-se agora uma Petrobrás acuada, diminuída, sensível à pesadíssima barragem de notícias negativas, dos ataques, e da manipulação de informações de que está sendo vítima".
"A senhora [Graça] Foster, fazendo poses de executiva responsável", prosseguiu o peemedebista, "gasta todo o seu tempo para acalmar e agradar a oposição, a mídia e o mercado. Reage com extrema timidez e excesso de bons modos à corrosão da imagem da empresa". A mesma reação tíbia da base do governo, a que pertenço, e do próprio governo.
Requião lembra que as mudanças da lei do petróleo, no governo Lula, adotando o modelo de compartilhamento e fazendo da Petrobrás operadora única do pré-sal, despertou a ira dos multinacionais. E citando informações do sindicalista sobre telegramas trocados entre as multinacionais vazados pelo Wikileaks, ele afirma que elas decidiram agir com cautela "para não despertar o nacionalismo dos brasileiros". "Talvez a cautela dê bons resultados no próximo leilão, diante de uma Petrobrás fragilizada pelos ataques", diz o senador.
"Não quero dizer que a oposição esteja agindo em conluio com as sete irmãs, e algumas primas, do petróleo mundial. Embora, às vezes, a mais alucinada das teorias da conspiração revele-se verdade factual. E eu que já declarei aqui ter medo de fantasmas, dessas almas penadas que teimam nos assombrar com as idéias fossilizadas da casa grande, reconheço que também acredito em bruxas e conspirações".
Segundo Requião, além da barragem de fogo da mídia, da oposição e do mercado, Emanuel Cancella alerta ainda que a interminável discussão sobre os royalties do petróleo desvia a atenção dos brasileiros da 11ª rodada de leilões da ANP: "Os royalties funcionam como ‘boi de piranha’. Mas enquanto as piranhas comem um boi, passa a boiada. Enquanto se discute os royalties que representam 10 por cento da indústria do petróleo, as multinacionais levam os 90 por cento", alerta.
"Os meios de comunicação, especialmente a Rede Globo, que promoveu uma irônica contrafação da campanha "o petróleo é nosso", deram uma contribuição inestimável para afastar da preocupação dos brasileiros desse atentado contra a nossa soberania", denunciou Requião. "Provavelmente não se conheça na história recente de nosso planeta uma atividade econômica tão cercada de conspirações, golpes de Estado, guerras, assassinatos, violência quanto à exploração do petróleo", acrescentou.
"A disputa por essa fonte de energia", destacou Requião, "marcou as grandes crises internacionais no final do século 19, durante todo o século 20 e nesta primeira década do século 21". "Do assalto norte-americano ao México, há um século, à invasão do Iraque, que faz dez anos, até a deposição de Muamar Kadafi, há um ano, o petróleo é o senhor da guerra", alertou. "O petróleo foi - e é - um dos produtos simbólicos do neo-colonialismo, do poderio das transnacionais".
"O oval da Esso, a concha da Shell, a estrela da Texaco eram os alvos mais destacados, imediatos, dos povos que lutavam para sacudir o jugo imperial. As sete irmãs, e suas contraparentes nacionais, mudaram os métodos, civilizaram-se. Trocaram o "big stick" pelos afagos, por seduzir e corromper. Substituíram as tropas e os canhões pela abdução dos meios de comunicação, hoje sua infantaria na conquista da opinião pública, na submissão dos poderes constituídos, na subordinação dos agentes públicos", lembrou.
E, citando novamente o sindicalista Emanuel Cancella, Requião diz ter a impressão de estar assistindo "o grande conluio entre as classes dominantes e seus representantes em todas as esferas – executivo, legislativo, judiciário, grande mídia – para desviar a atenção do que realmente importa, deixando o povo desnorteado e confuso. Parecem compactuar com o que disse o primeiro diretor-geral da ANP, David Zilberstein, então no governo de Fernando Henrique Cardoso, para uma platéia de megaempresários: "O petróleo é vosso!"
Ao final do discurso, a senadora Vanessa Graziotin (PCdoB-AM) aparteou o senador Requião para defender a 11ª rodada de leilões de petróleo, dizendo que "todo o país quer o leilão" que já "deveria ter sido feito há muito tempo" e que o governo estava tendo "coragem para realizá-lo". Requião rebateu a senadora amazonense, dizendo que discorda de sua posição e de seu partido e que "esta coragem é a mesma que está privatizando os portos, aeroportos, ferrovias e estradas no país". "Não foi para isso que elegemos o PT, não foi para isso que seguimos o presidente Lula nos últimos anos. Se é para privatizar, deixem que os tucanos sabem fazer isso muito melhor", concluiu o senador paranaense.


segunda-feira, 1 de abril de 2013

O que fazer com Eduardo Campos?


Por Antonio Lassance, no sítio Carta Maior:

A candidatura de Eduardo Campos à presidência da República é um problema principalmente para o próprio Eduardo Campos. Afora toda a badalação e bajulação que o cercam, muito comuns nos casos em que o sucesso sobe à cabeça, sua candidatura tem pés de barro.

O nome de Eduardo Campos é praticamente restrito a Pernambuco. Seu partido não tem força nacional e seus políticos pretendem, antes de eleger um presidente, conquistar mais prefeituras e governos estaduais. Campos e o PSB integram o governo Dilma. Precisam arranjar um motivo para sair dele e justificar uma candidatura nacional contra um governo com níveis recordes de popularidade.

Portanto, o que fazer da candidatura Eduardo Campos se tornou um problema à espera de uma saída honrosa. Eleito em 2006 e reeleito em 2010, Campos precisa saber exatamente o que será em 2014: governo ou oposição? Candidato à presidência, ao Senado, à Câmara ou a ministro de um segundo governo Dilma?

Campos tem assumido com maestria o papel de chamar a atenção para si próprio. Porém, enquanto lançar-se candidato é fácil e não custa nada, sair candidato são outros quinhentos. Pode custar caro. Para alguém se dizer candidato, basta uma pessoa, o próprio pretendente. Para de fato ser candidato, é preciso uma retaguarda de apoio político de partidos e de forças sociais que se mobilizem a favor ou contra alguma coisa. A favor de que ou contra o que é a candidatura Eduardo Campos? Até agora não se sabe.

Por sua vez, a coisa mais inadvertida que a presidência Dilma e o PT podem fazer neste exato momento é enxotar o PSB de seu governo. Tornariam fato uma candidatura que por enquanto é só especulação precoce. Engrossariam a lista de candidatos que, mesmo com poucos percentuais, somados podem favorecer um segundo turno. Tirariam da base aliada um partido que pode fazer falta no Congresso, colaborando com obstruções e dissensões sobre projetos importantes para a agenda do Executivo.

Se o PSB for defenestrado do governo, será poupado do trabalho difícil de explicar sua saída por outras razões que não o oportunismo eleitoral. O encontro afetuoso com Serra, os elogios a FHC e as alfinetadas em Dilma foram provocações, mas também foram uma isca jogada para o PT morder. O afastamento de dirigentes do PSB das Indústria Nucleares do Brasil foi o troco, talvez na hora errada.

A turma do "deixa disso", que inclui o ex-presidente Lula e o atual governador da Bahia, Jacques Wagner, tem tratado o assunto com mais cautela e perspicácia, evitando um confronto direto que transformaria Campos e o PSB em vítimas.

Nesse contexto, a tentavia apaziguadora de Jacques Wagner parece ter sido até agora o movimento mais incisivo para debelar a candidatura do PSB e resgatar o pródigo de volta à casa. Wagner revelou, em entrevista, tersugerido a Campos que sua melhor estratégia seria aguardar 2018 e tentar ser um candidato do campo aliado, e não se bandear para o lado adversário.

A especulação sobre uma candidatura de Campos em 2018 tem um ingrediente difícil de acreditar, quase improvável: a de que o PT, quem sabe, poderia até abdicar da cabeça de chapa. Mesmo se isso fosse verdade, haveria o problema extra do PT preterir aquele que se consolidou como seu aliado preferencial, o PMDB; partido que, aliás, já anunciou que buscará ter um candidato à presidência em 2018. Engana-se quem pensa que ele seja Sérgio Cabral, que não conta com apoio da cúpula peemedebista.

Enfim, ao que parece, a conta de 2018 não fecha. A não ser sob uma única hipótese: a de Eduardo Campos migrar para o PMDB, com o qual, em Pernambuco, não tem qualquer problema de convivência. Sob a égide de um acordo de alternância no poder entre PT e PMDB, o Brasil poderia ingressar na fórmula similar à da Concertación chilena, que sempre foi vista por muitos dirigentes do campo majoritário do PT como um bom modelo de governabilidade.

E por que cargas d'água o PT abdicaria da presidência? Existem razões fortes do ponto de vista estratégico. Dar a vez ao PMDB possibilitaria sacramentar o compromisso de longo prazo com esse partido, já reiterado em alto e bom som por vários dirigentes petistas. Permitiria dar uma nova cara à presidência da República, dessa vez com o PT como coadjuvante. Entre os petistas, existe o medo do cansaço ou fadiga do poder, aventado por Wagner na referida entrevista e que foi experimentado por inúmeras administrações petistas. O mesmo mal se abateu sobre os chilenos da Concertación, que perderam a última eleição quando repetiram o candidato Eduardo Frei, que já havia sido presidente.

Mas existe também uma razão tática importante. Abrir espaço para uma candidatura presidencial de fora do PT, com um aliado estratégico e "melhorado" em relação ao atual plantel do PMDB, ajudaria o PT a dar vazão a candidaturas estaduais que hoje estão represadas por conta da absoluta prioridade conferida pelo Partido à disputa presidencial. Um futuro time de governadores proporcionaria novo fôlego e reforçaria o retorno posterior à presidência, com ânimo renovado e candidatos de sobra. 

Ainda assim, se nada disso der certo e ninguém combinar o jogo com os "rousseff", sobraria um bom problema para os governistas: a eleição de 2018 seria palco não mais da tradicional disputa entre PT e PSDB, mas entre candidatos da atual coalizão - o PT, o PMDB e o PSB. Faz sentido.

A atualização grotesca de 1964


Por Gilson Caroni Filho

Se estudasse a mídia brasileira como um caso sobre serial killers, o investigador diria que existe um padrão clássico de ação: primeiro vem a tentativa de imputar aos governos progressistas toda sorte de corrupção e desmando; depois a tentativa de calar a voz dos que se opõem à sua narrativa; e, finalmente, vem a excitação dos segmentos raivosos da classe média ao sabor de insanáveis pavores arcaicos que povoam o imaginário desta fração de classe, apresentando políticas inclusivas como uma ameaça fatal a seus supostos privilégios.

Ao invocar o golpe de Estado de 1964, os editorialistas receitavam o antídoto contra a guinada da subversão como pretexto para barrar o avanço social e impedir a tomada de consciência política que começava a esboçar uma linha de resistência anti-imperialista com uma nitidez nunca havida antes em nosso passado.

O resultado de duas décadas de oligarquia empresarial-militar, inaugurada com o golpe, exibiu um saldo sinistro com o que, à época, se convencionou denunciar como a pior crise econômica, política, social e moral da nossa história. O Brasil, urdido neste novo pacto, foi, por excelência, o “antipaís”. Subordinados, da forma mais completa possível, toda nossa economia e o aparelho estatal foram orientados e redimensionados de maneira a afastar, abafar ou reprimir qualquer obstáculo a essa subordinação. É dessa lógica que emergiu um regime que tinha como metodologia a censura e o terrorismo de Estado, ambos sob a bênção de nossas melhores consciências liberais e seus impérios jornalísticos.

Tempos passados? Sem dúvida, mas não nos iludamos: se mudou a conjuntura, alguns objetivos continuam na agenda da direita e de seus intelectuais orgânicos, como vimos nos dois governos de Fernando Henrique Cardoso.

Sempre é bom recordar que há 28 anos, apesar do deslocamento político, a hegemonia do processo de transição encontrava-se com a mesma burguesia brasileira condutora do golpe. Se não era mais possível a acumulação capitalista se realizar através de uma economia planejada, centralizada e estatizante, os corifeus dessa mesma classe erigem globalização, flexibilização, desregulamentação e livre concorrência como dogmas, mas o objetivo permanece: a modernização acompanhada da internacionalização da economia e da limitação, com a judicialização da política, da democracia ao grupo organicamente ligado a interesses financistas. Para isto, existe o Instituto Millenium e seus jornalistas, acadêmicos e juristas amestrados.

Em 2013, é visível que o espartilho autoritário não consegue mais conter a pujança do corpo social. Há dez anos, há diálogo entre quem governa e os movimentos sociais que expressam anseios de liberdade, de participação e de melhoria substancial das condições de vida de grande parte da população. O que assistimos é uma ruptura com os pilares de sustentação do regime militar e dos três governos que lhe sucederam.

O que resta à grande imprensa? Sufocar financeiramente quem denuncia seu modus operandi, esboçar cenários eleitorais contando com quadros partidários sem qualquer organicidade fora de suas bases regionais, como é o caso do governador de Pernambuco,Eduardo Campos, do senador mineiro Aécio Neves ou da eterna linha auxiliar, Marina Silva, a neoconservadora do ecossistema político.

O desespero acentua o efeito combinado de avanço tecnológico com furor reacionário,criando campo propício à proliferação de articulistas raivosos e humoristas de boteco. A extensão do grotesco é tão acentuada que seus "bons propósitos" não enganam a mais ninguém. Estão todos na ordem do riso. E da exclusão social.