Discurso do Senador Roberto Requião na tribuna do Senado Federal, no dia 27/03/13:
"Nesses últimos dias, dois assuntos têm absorvido os discursos da oposição, no plenário e na mídia, esta cada vez mais pauteira e porta-voz dos partidos da minoria. A Petrobrás e as viagens de Dilma e Lula, estes os temas recorrentes.
Vamos ao primeiro item.
A mídia e a oposição desancam a quase Petrobrax à conta de ditos prejuízos daquase estatal. A empresa teria se envolvido em algumas jogadas no mercado e tomado na cabeça.
Declaro-me um tanto quanto confuso com esse repentino zelo dos liberais, dos fundamentalistas da livre concorrência com as altas e baixas das ações da indigitada, com os prejuízos para os investidores.
Com toda humildade, pergunto: não faz parte do jogo das bolsas? Esse não é um dos pilares da sabedoria da economia de mercado, por sua vez sustentáculo do maravilhoso mundo da democracia de mercado?
De um lado, exigem da estatal –ou semi estatal, sei lá-- requerem dela comportamento e operosidade de empresa privada, condenam seus açambarcamentos, seus privilégios; todavia, mais adiante, lembram de sua porção Mr. Hyde e reclamam que ela, mesmo que sujeita às oscilações e aventuras mercadistas, aja como a contraface do monstro.
Mas, senhoras e senhores senadores, a oposição e a mídia silenciam, omitem-se e assim acobertam o verdadeiro escândalo que o governo e a Agência Nacional de Petróleo vão patrocinar, com data e hora marcadas.
Não ouço das irmãs siamesas –oposição e mídia- nenhum pio, por miúdo que fosse. Tão diligentes, tão cuidadosas com as trapalhadas petrolíferas da Petrobrás no mercado, calam-se diante deste mega escândalo que se anuncia.
Ficaria encantado se oposição, também neste caso, manifestasse ímpetos de verde-amarelismo, como no caso que a entretém.
O escândalo vai acontecer nos dias 14 e 15 de maio próximo. Nestes dias, a Agência Nacional de Petróleo leiloa 289 blocos de reservas de petróleo, distribuídos por 11 bacias sedimentares. A senhora Magda Chambriand, diretora-geral da Agência, estima que o potencial desses 11 blocos possa somar um volume de 30 bilhões de barris de óleo.
E atenção, senhoras e senhoras senadores. As reservas brasileiras de petróleo conhecidas hoje somam 14 bilhões de barris. Logo, o governo vai entregar para o mercado duas vezes mais que as nossas reservas conhecidas. E quem serão os felizardos ganhadores desse mega leilão?
Emanuel Cancella, diretor do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro e da Federação Nacional dos Petroleiros, faz uma gravíssima observação, em artigo publicado no sítio do jornalista Luís Carlos Azenha.
Diz ele que, se nos leilões anteriores, a Petrobrás “teve uma posição arrojada, arrematando a maior parte dos blocos, reduzindo as perdas para a nação, desta vez a empresa entrará na disputa de mãos atadas, sob a síndrome do prejuízo que lhe foi imputado falsamente, já que teve um lucro de 21 bilhões de reais”.
E isso é verdade. Ao contrário da disposição manifestada nos leilões anteriores, vê-se uma Petrobrás acuada, diminuída, sensível à pesadíssima barragem de notícias negativas, dos ataques, e da manipulação de informações de que está sendo vítima.
A senhora Foster, fazendo poses de executiva responsável, gasta todo o seu tempo para acalmar e agradar a oposição, a mídia e o mercado. Reage com extrema timidez e excesso de bons modos à corrosão da imagem da empresa.
A mesma reação tíbia da base do governo, a que pertenço, e do próprio governo.
Cancella lembra que as mudanças da lei do petróleo, no governo Lula, adotando o modelo de compartilhamento e fazendo da Petrobrás operadora única do pré-sal, despertou a ira dos multinacionais.
Mas, diz o sindicalista, citando telegramas trocados entre as multinacionais vazados pelo Wikileaks, elas decidiram agir com cautela “para não despertar o nacionalismo dos brasileiros”.
Talvez a cautela dê bons resultados no próximo leilão, diante de uma Petrobrás fragilizada pelos ataques.
Não quero dizer que a oposição esteja agindo em conluio com as sete irmãs, e algumas primas, do petróleo mundial. Embora, às vezes, a mais alucinada das teorias da conspiração revele-se verdade factual.
E eu que já declarei aqui ter medo de fantasmas, dessas almas penadas que teimam nos assombrar com as idéias fossilizadas da casa grande, reconheço que também acredito em bruxas e conspirações
Além da barragem de fogo da mídia, da oposição e do mercado, Emanuel Cancella alerta ainda que a interminável discussão sobre os royalties do petróleo desvia a atenção dos brasileiros da 11ª rodada de leilões da ANP:
“Os royalties funcionam como “boi de piranha”. Mas enquanto as piranhas comem um boi, passa a boiada. Enquanto se discute os royalties que representam 10 por cento da indústria do petróleo, as multinacionais levam os 90 por cento”, diz o sindicalista.
Os meios de comunicação, especialmente a Rede Globo, que promoveu uma irônica contrafação da campanha “o petróleo é nosso”, deram uma contribuição inestimável para afastar da preocupação dos brasileiros desse atentado contra a nossa soberania.
Provavelmente, não se conheça na história recente de nosso planeta uma atividade econômica tão cercada de conspirações, golpes de Estado, guerras, assassinatos, violência quanto à exploração do petróleo.
A disputa por essa fonte de energia marcou as grandes crises internacionais no final do século 19, durante todo o século 20 e nesta primeira década do século 21. Do o assalto norte-americano ao México, há um século, à invasão do Iraque, que faz dez anos, até a deposição de Muamar Kadafi, há um ano, o petróleo é o senhor da guerra.
O petróleo foi –e é- um dos produtos simbólicos do neo-colonialismo, do poderio das transnacionais. O oval da Esso, a concha da Shell, a estrela da Texaco eram os alvos mais destacados, imediatos, dos povos que lutavam para sacudir o jugo imperial.
As sete irmãs, e suas contraparentes nacionais, mudaram os métodos, civilizaram-se. Trocaram o “big stick” pelos afagos, por seduzir e corromper. Substituíram as tropas e os canhões pela abdução dos meios de comunicação, hoje sua infantaria na conquista da opinião pública, na submissão dos poderes constituídos, na subordinação dos agentes públicos.
Como diz Emanuel Cancella.
“ Perplexos, temos a impressão de estar assistindo o grande conluio entre as classes dominantes e seus representantes em todas as esferas – executivo, legislativo, judiciário, grande mídia – para desviar a atenção do que realmente importa, deixando o povo desnorteado e confuso. Parecem compactuar com o que disse o primeiro Diretor-Geral da ANP, David Zilberstein, então no governo de Fernando Henrique Cardoso, para uma platéia de megaempresários: “O petróleo é vosso!”
Senhoras e senhores senadores, companheiros da bancada de apoio ao governo, senhores do governo, senhora e senhores da Petrobrás, diante disso, depois disso que temos a dizer?
O nosso silêncio continuará sendo cúmplice, não de uma hipotética conspiração, mas de fatos que explodem à nossa frente com a violência das lições da história?"
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