Entrega de 289 lotes é escândalo nacional
Senador condena rodada de leilões marcada para os dias 14 e 15 de maio
O senador Roberto Requião (PMDB-PR) afirmou na quarta-feira, no plenário do Senado, que a barragem de críticas da oposição e da mídia ao desempenho da Petrobrás é uma artimanha “para desviar a atenção dos brasileiros para o verdadeiro escândalo que se anuncia”. “O escândalo vai acontecer nos dias 14 e 15 de maio próximo. Nestes dias, a Agência Nacional de Petróleo leiloa 289 blocos de reservas de petróleo, distribuídos por 11 bacias sedimentares, um volume de 30 bilhões de barris de óleo”, denunciou o senador.
Requião: leilão de petróleo que a ANP marcou é um escândalo
Senador denunciou que a ANP quer dar 30 bilhões de barris às múltis, duas vezes mais que as reservas confirmadas. “Não foi para isso que elegemos o PT”
O senador Roberto Requião (PMDB-PR) afirmou na quarta-feira (27), no plenário do Senado, que a barragem de críticas da oposição e da mídia ao desempenho da Petrobrás é uma artimanha "para desviar a atenção dos brasileiros para o verdadeiro escândalo que se anuncia". "O escândalo vai acontecer nos dias 14 e 15 de maio próximo. Nestes dias, a Agência Nacional de Petróleo leiloa 289 blocos de reservas de petróleo, distribuídos por 11 bacias sedimentares. A senhora Magda Chambriard, diretora-geral da Agência, estima que o potencial desses blocos possa somar um volume de 30 bilhões de barris de óleo", denunciou o senador.
"E atenção, senhoras e senhoras senadores. As reservas brasileiras de petróleo conhecidas hoje somam 14 bilhões de barris. Logo, o governo vai entregar para o mercado duas vezes mais que as nossas reservas confirmadas", lembrou. "E quem serão os felizardos ganhadores desse mega leilão?", indagou o parlamentar. O próprio Requião respondeu, citando denúncia do sindicalista Emanuel Cancella, diretor do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro e da Federação Nacional dos Petroleiros.
"Ele [Cancella] faz uma gravíssima observação, em artigo publicado no sítio do jornalista Luís Carlos Azenha. Diz que, se nos leilões anteriores, a Petrobrás teve uma posição arrojada, arrematando a maior parte dos blocos, reduzindo as perdas para a nação, desta vez a empresa entrará na disputa de mãos atadas, sob a síndrome do prejuízo que lhe foi imputado falsamente, já que teve um lucro de 21 bilhões de reais", revela Requião.
O senador paranaense cobrou que "a oposição e a mídia falam muito de supostos erros gerenciais da estatal, mas silenciam sobre o leilão, omitem-se e assim acobertam o verdadeiro escândalo que o governo e a Agência Nacional de Petróleo vão patrocinar, com data e hora marcadas". "Não ouço das irmãs siamesas - oposição e mídia- nenhum pio, por miúdo que fosse. Tão diligentes, tão cuidadosas com as trapalhadas petrolíferas da Petrobrás no mercado, calam-se diante deste megaescândalo que se anuncia. Ficaria encantado se oposição, também neste caso, manifestasse ímpetos de verde-amarelismo, como no caso que a entretém", destacou.
Requião lembrou que "ao contrário da disposição manifestada nos leilões anteriores, vê-se agora uma Petrobrás acuada, diminuída, sensível à pesadíssima barragem de notícias negativas, dos ataques, e da manipulação de informações de que está sendo vítima".
"A senhora [Graça] Foster, fazendo poses de executiva responsável", prosseguiu o peemedebista, "gasta todo o seu tempo para acalmar e agradar a oposição, a mídia e o mercado. Reage com extrema timidez e excesso de bons modos à corrosão da imagem da empresa". A mesma reação tíbia da base do governo, a que pertenço, e do próprio governo.
Requião lembra que as mudanças da lei do petróleo, no governo Lula, adotando o modelo de compartilhamento e fazendo da Petrobrás operadora única do pré-sal, despertou a ira dos multinacionais. E citando informações do sindicalista sobre telegramas trocados entre as multinacionais vazados pelo Wikileaks, ele afirma que elas decidiram agir com cautela "para não despertar o nacionalismo dos brasileiros". "Talvez a cautela dê bons resultados no próximo leilão, diante de uma Petrobrás fragilizada pelos ataques", diz o senador.
"Não quero dizer que a oposição esteja agindo em conluio com as sete irmãs, e algumas primas, do petróleo mundial. Embora, às vezes, a mais alucinada das teorias da conspiração revele-se verdade factual. E eu que já declarei aqui ter medo de fantasmas, dessas almas penadas que teimam nos assombrar com as idéias fossilizadas da casa grande, reconheço que também acredito em bruxas e conspirações".
Segundo Requião, além da barragem de fogo da mídia, da oposição e do mercado, Emanuel Cancella alerta ainda que a interminável discussão sobre os royalties do petróleo desvia a atenção dos brasileiros da 11ª rodada de leilões da ANP: "Os royalties funcionam como ‘boi de piranha’. Mas enquanto as piranhas comem um boi, passa a boiada. Enquanto se discute os royalties que representam 10 por cento da indústria do petróleo, as multinacionais levam os 90 por cento", alerta.
"Os meios de comunicação, especialmente a Rede Globo, que promoveu uma irônica contrafação da campanha "o petróleo é nosso", deram uma contribuição inestimável para afastar da preocupação dos brasileiros desse atentado contra a nossa soberania", denunciou Requião. "Provavelmente não se conheça na história recente de nosso planeta uma atividade econômica tão cercada de conspirações, golpes de Estado, guerras, assassinatos, violência quanto à exploração do petróleo", acrescentou.
"A disputa por essa fonte de energia", destacou Requião, "marcou as grandes crises internacionais no final do século 19, durante todo o século 20 e nesta primeira década do século 21". "Do assalto norte-americano ao México, há um século, à invasão do Iraque, que faz dez anos, até a deposição de Muamar Kadafi, há um ano, o petróleo é o senhor da guerra", alertou. "O petróleo foi - e é - um dos produtos simbólicos do neo-colonialismo, do poderio das transnacionais".
"O oval da Esso, a concha da Shell, a estrela da Texaco eram os alvos mais destacados, imediatos, dos povos que lutavam para sacudir o jugo imperial. As sete irmãs, e suas contraparentes nacionais, mudaram os métodos, civilizaram-se. Trocaram o "big stick" pelos afagos, por seduzir e corromper. Substituíram as tropas e os canhões pela abdução dos meios de comunicação, hoje sua infantaria na conquista da opinião pública, na submissão dos poderes constituídos, na subordinação dos agentes públicos", lembrou.
E, citando novamente o sindicalista Emanuel Cancella, Requião diz ter a impressão de estar assistindo "o grande conluio entre as classes dominantes e seus representantes em todas as esferas – executivo, legislativo, judiciário, grande mídia – para desviar a atenção do que realmente importa, deixando o povo desnorteado e confuso. Parecem compactuar com o que disse o primeiro diretor-geral da ANP, David Zilberstein, então no governo de Fernando Henrique Cardoso, para uma platéia de megaempresários: "O petróleo é vosso!"
Ao final do discurso, a senadora Vanessa Graziotin (PCdoB-AM) aparteou o senador Requião para defender a 11ª rodada de leilões de petróleo, dizendo que "todo o país quer o leilão" que já "deveria ter sido feito há muito tempo" e que o governo estava tendo "coragem para realizá-lo". Requião rebateu a senadora amazonense, dizendo que discorda de sua posição e de seu partido e que "esta coragem é a mesma que está privatizando os portos, aeroportos, ferrovias e estradas no país". "Não foi para isso que elegemos o PT, não foi para isso que seguimos o presidente Lula nos últimos anos. Se é para privatizar, deixem que os tucanos sabem fazer isso muito melhor", concluiu o senador paranaense.
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