Mantega propõe que todos os países rendam-se à guerra cambial dos EUA
Em seminário no Rio de Janeiro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, apresentou ao debate duas sugestões aos países emergentes administrarem os fluxos de capitais: uma rápida recuperação dos chamados países desenvolvidos e a adoção de um câmbio único para todos os países. “A minha proposta é que todos os países adotassem o câmbio flutuante”, disse na abertura, na quinta-feira (26/05).
O evento foi organizado pelo Ministério da Fazenda e Fundo Monetário Internacional (FMI), com o tema “Administrando os fluxos de capitais em mercados emergentes”.
De acordo com o ministro, o câmbio flutuante, determinado pela ação dos monopólios financeiros, deve prevalecer sobre o câmbio administrado, no qual os países podem ter o controle e utilizá-lo para uma política de crescimento. Isto é, a proposta de Mantega é que os países abdiquem de determinar a taxa de câmbio e adotem um câmbio que favoreça os EUA, que detém a moeda universal – que agora está sendo utilizada na guerra cambial, desencadeada após a explosão da crise. A proposta, inclusive, é contraditória com o teor de uma correspondência endereçada por Mantega ao FMI, quando lembrou uma ideia de Keynes de que os países têm de ter soberania para definir os rumos de suas economias, inclusive do câmbio.
Segundo o ministro, é preciso uma reforma do sistema financeiro internacional para conter as distorções do fluxo de capitais. “Enquanto essas reformas não acontecem, os países emergentes têm que se defender. O Brasil tem adotado uma série de medidas: voltamos a subir as taxas de juros; desde o ano passado, tomamos medidas para a conter a expansão do crédito; estamos desacelerando a economia brasileira”, disse. Ao contrário de defender o Brasil da invasão de dólares, o aumento dos juros tem servido de atração para a montanha de dólares emitida pelos EUA. A razão disso é o diferencial da taxa real de juros entre países ricos e emergentes: Brasil 6,20% ao ano, ante -0,24% nos EUA, por exemplo. O resultado é a deterioração cada vez maior do câmbio. Na segunda-feira (30/05), a cotação do dólar fechou a R$ 1,59. Aumento de juros é sinônimo de entrada de mais dólares no país, mais subsídios aos produtos importados e piora nas exportações.
Mantega defendeu que os controles dos fluxos de capitais devem ser temporários. “As medidas que tomamos controlam a entrada de capitais de curto prazo e não espantam os investimentos”, ressaltou. Ele se referiu à cobrança de IOF sobre capital estrangeiro incidente sobre renda fixa (6%), ações (2%) e empréstimos externos de até dois anos (6%). Presente no seminário, a chefe de pesquisa de mercados emergentes do JP Morgan Chase, Joyce Chang, refutou a análise de Mantega: “Esse aumento de investimentos nos emergentes veio para ficar, não haverá reversão. É o novo normal - os controles de capital teriam de ser mantidos por muito tempo”, lembrando ainda o diferencial de juros como fator para a continuidade da avalanche de dólares para os emergentes.
De acordo com o BC, de janeiro a abril deste ano ingressaram no país US$ 8,637 bilhões em Investimento Estrangeiro em Carteira, capital puramente especulativo, US$ 22,425 bilhões em Outros Investimentos Estrangeiros, também destinado à especulação, e mais US$ 22,985 bilhões em Investimento Direto Estrangeiro (IDE), do qual, além da parcela destinada à compra de empresas (desnacionalização), grande parte é destinada à especulação, fugindo assim da taxação de IOF. Isso até o FMI já se deu conta. “O IDE está crescendo e, por coincidência, é excluído do imposto; espero que seja IDE de verdade, mas talvez não seja; então o meu palpite é que o próximo passo será o de estender a rede [de taxações] e incluir alguma forma de IDE, talvez até todo o IDE”, disse o diretor do Departamento de Pesquisa do FMI, Olivier Blanchard.
VALDO ALBUQUERQUE
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