Embaixador Omar Zubeidy denuncia na ABI bombardeio diuturno contra a Líbia
A ABI – Associação Brasileira de Imprensa recebeu na segunda-feira, 30 de maio, em sua sede no Rio de Janeiro, o Embaixador da Líbia no Brasil, Salem Omar Zubeidy, para uma palestra sobre os bombardeios da Otan/EUA em seu país. A atividade aconteceu por iniciativa da Comissão por Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Casa através do Conselheiro Mário Augusto Jakobskind, segundo noticiou o jornal Água Verde.
O Embaixador Omar Zubeidy iniciou sua fala por um registro histórico: “Desde os tempos antigos, devido a riqueza e importância estratégica da Líbia, muitos invasores quiseram usar o país como fornecedor de recursos.
Isso se deu com os fenícios, continuou com os romanos, turcos, espanhóis e italianos. A ocupação italiana durou 132 anos. Depois da segunda guerra o país tornou-se um protetorado dos EUA e Inglaterra. Em 24 de dezembro 1951 com o apoio das Nações Unidas a Líbia tornou-se independente. Um reino foi constituído e o trono ocupado pelo rei Idris I que governou a Líbia até 1º de setembro de 1969 quando Muamar Kadafi liderou a vitoriosa revolução popular.
“O reinado de Idris I foi desastroso. Ele concedeu 5 bases militares aos EUA, três à Grã-Bretanha e permitiu a entrada de mais de 500 mil italianos que ocuparam as terras e usavam os líbios como empregados mal pagos. A Líbia tinha cerca de 2 milhões de habitantes. O governo era muito corrupto. As decisões eram tomadas no exterior, na Itália e isso causava muita insatisfação.
“Depois da revolução, com Kadafi, toda a autoridade executiva e legislativa repousa nas mãos do povo. Politicamente, desde 1977 o país é controlado pelo povo líbio por meio das Assembleias Populares e os Comitês Populares eleitos livremente pela população.
São esses organismos que levam a cabo as decisões de organizações de base, em níveis locais, regionais e nacional. Todas as forças estrangeiras foram expulsas da Líbia e com isso foi retomada a direção da economia do país cujo monopólio era dos italianos. A revolução nacionalizou os bancos e as empresas estrangeiras, principalmente as ligadas ao petróleo”, afirmou o Embaixador.
Omar Zubeidy destacou que “mesmo depois de a Líbia ter renunciado ao seu programa de investimento em armamentos e ter permitido a entrada de investimentos estrangeiros no país, o ocidente inventou um novo motivo para atacar o país por que expulsamos as bases militares estrangeiras do nosso território”.
O Embaixador Líbio foi contundente ao sustentar que “as rebeliões na Líbia são fruto de uma conspiração iniciada em 2009 depois de um discurso de Kadafi na ONU onde criticou esse organismo concentrando em um ponto: a cooperação sul-sul, que para os líbios deveria ser tão forte quanto a do norte.
Ao propor o uso de recursos para o desenvolvimento da cooperação sul-sul Kadafi não estava se contrapondo à Otan. Ele propôs uma cooperação e em relação à segurança e a paz no sul. No ano passado promovemos mais de três cúpulas na Líbia nesse sentido.
Não sabíamos que as intenções com relação a nós eram piores do que com a Tunísia e o Egito. Não se pode comparar as motivações das rebeliões na Tunísia e no Egito com o que vem acontecendo na Líbia por que as populações daqueles países não vinham sendo atendidas nas suas necessidades básicas e por isso lutam para melhorar suas condições de vida.
Na Líbia é diferente. As condições são melhores e os padrões de vida da população são os melhores da África e do mundo árabe. Incluido que a saúde e a educação são gratuitas. Os líbios são orgulhosos de seu país.
É um grande erro insistir na comparação da rebelião que eclodiu na Líbia com as que ocorreram no norte da África e Oriente Médio. A CIA se aproveitou de uma manifestação pacífica na cidade de Benghazi, em frente ao consulado italiano, para insuflar os manifestantes em um triste episódio que contou com atiradores de elite que dispararam contra as pessoas e acusaram o governo.
A Líbia está enfrentando duas guerras: uma com a mídia e outra com a rebelião. A rede de TV Al Jazeera está por trás dos conflitos. Ela capitaneia a guerra da mídia desde o início dos conflitos enviando notícias falsas, fabricando dados e imagens inexistentes para afirmar a falsidade de que exército líbio estava matando pessoas em Benghazi. Os príncipes do Golfo Pérsico, fantoches dos americanos, se tornaram parte dessa conspiração para destruir a Líbia.
“Para superar o conflito em Benghazi havia um acordo para que a ONU interferisse. Caberia ao Conselho de Segurança da ONU estabelecer uma zona de proteção. Esse acordo não foi cumprido. Caberia à Liga Árabe tentar soluções e recorrer à União Africana para entrar e ajudá-la nesse assunto.
“Diferentemente do que ocorreu no Iêmen e no Bahrein, onde foram tentadas negociações por meios pacíficos, o então secretário na Liga Árabe, o líbio Abdel Moneim Alhouni, influenciado pelos xeiques do Golfo, sem o voto da maioria, resolveu recorrer ao Conselho de Segurança da ONU.
O Conselho não enviou um representante sequer para fazer a verificação do que estava acontecendo na Líbia, pois o representante líbio na Liga Árabe era parte da conspiração na ONU. Ele dizia que o povo de seu país estava sendo assassinado e o Conselho decidiu pela resolução 1973 que criava a zona de exclusão e permitiu o início dos bombardeios.
A Líbia não pode recorrer por que o representante da própria Líbia, na ocasião, tinha votado pela implementação da medida. Negamos que os aviões líbios tenham feito ataque a quaisquer alvos civis.
O Embaixador Zubeidy disse também que é “responsabilidade do Estado manter a ordem no país e que quando o governo líbio descobriu a conspiração com envios de armamentos militares aos rebeldes vindos do exterior, assumiu sua responsabilidade.
Quando vimos que os rebeldes estavam invadindo cidades onde estão as refinarias de petróleo, os portos e a região no oeste da Líbia, quando descobrimos a conspiração queríamos libertar essas cidades.
“O novo mundo da globalização é na verdade a americanização do mundo onde os países menores não podem sobreviver. Foi por isso que Muamar Kadafi em julho de 1999 convidou líderes africanos para um encontro para tratar sobre a organização e união mais efetivas entre os países africanos.
Uma seção especial da União Africana na Líbia, em setembro de 1999 realizou-se para pensar nessas mudanças. Muamar Kadafi tinha a idéia de mudar a organização da União Africana para Estados Unidos da África, integrando todos os países africanos em um único Estado.
Mas os líderes africanos preferiram o modelo da Europa, então ficou estabelecida a União Africana. Mas desde então até agora Kadafi atua para transformar a organização num sistema mais integrado politicamente.
Omar Zubeidy criticou a posição da Otan de confiscar o dinheiro do povo líbio dizendo que “isso faz parte de uma articulação dos líderes do movimento rebelde que desejam se apropriar desse dinheiro dizendo que é tudo propriedade de Kadafi, mas eles querem para si esse dinheiro, abriram um banco central em Benghazi, que nem governo tem, onde não houve eleições, se autoproclamaram governo” para confiscar o dinheiro da venda do petróleo que deve ser usado para resolver os problemas do povo de toda a Líbia.
O Embaixador da Líbia no Brasil afirmou que “o que se iniciou como uma zona de exclusão aérea é hoje um bombardeio diurno na Líbia onde houve já, inclusive, uma tentativa de assassinato do irmão de Kadafi, mas o governo líbio conta com um acordo para a resolução do impasse que seja costurado pela União Africana numa iniciativa que deverão tomar parte a União Europeia, a ONU e a Rússia.
Querem o Kadafi fora do país, mas ele não sairá por que não fez nada de errado e ninguém tem autoridade para ditar-lhe a saída. Somente os líbios podem decidir sobre qual é o sistema que deve vigorar na Líbia, finalizou o Embaixador líbio, Omar Zubeidy.
ROSANITA CAMPOS
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