Obama & Cia. avisam que guerra comercial contra Brasil continua
Empresários e políticos brasileiros condenam o comércio predatório dos EUA que gerou um déficit para o Brasil de US$ 7,7 bilhões em 2010
O presidente dos EUA, Barack Obama, chega ao Brasil no próximo fim de semana em meio a protestos de diversos setores empresariais brasileiros em função do agravamento do desequilíbrio na balança comercial entre os dois países.
A avalanche de importados americanos vem aumentando em volume nos últimos dois anos, fruto da guerra cambial desencadeada pela Casa Branca após a crise econômica nascida no coração de Wall Street. De um superávit de US$ 1,7 bilhão em 2008 a balança de comércio Brasil/EUA passou a ser deficitária em US$ 4,4 bilhões em 2009 e atingiu um rombo de US$ 7,7 bilhões em 2010. Somente nos dois primeiros meses deste ano, o saldo do Brasil com os Estados Unidos está negativo em US$ 1,25 bilhão, ou 93,8% acima do mesmo período do ano anterior.
Apesar dos estragos que essa política de desvalorização artificial do dólar provoca no comércio e nas contas externas brasileiras, e das expectativas dos exportadores brasileiros numa mudança, o presidente do Inter-American Dialogue, Peter Hakim, afirmou, em matéria no Miami Herald, que a visita de Obama não deve reverter em nada além de “avanço modesto”.
A meta dos EUA “é aumentar as exportações dos atuais US$ 1,57 trilhão para US$ 3,14 trilhões em 2014”, deixou claro, recentemente, o chefe do Conselho de Assessores Econômicos de Obama, Austan Goolsbee. “Vamos literalmente, dobrar as exportações”, acrescentou. “Será o maior aumento que um país já fez” nas exportações, asseverou. Essa política já fez as exportações americanas para o Brasil subirem 34,9% em apenas um ano.
O que Peter Hakim explicita em seu artigo é que a política americana de despejar seus produtos no Brasil para tentar sair da estagnação econômica em que se afundou, praticamente não vai mudar. Hakim é membro do conselho de relações exteriores dos EUA (Council on Foreign Relations) e já prestou serviços à Fundação Ford em Nova York e América Latina (Argentina, Brasil, Chile e Peru) e ao Banco Mundial.
Segundo dados apresentados por Carlos Cavalcanti, vice-presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior e diretor do Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), “o pior déficit do Brasil é com os EUA, embora o quinto melhor superávit dos EUA seja conosco”. “Em 2010, as exportações americanas atingiram US$ 27 bilhões – o maior valor registrado na série histórica bilateral. Já as exportações brasileiras, de cerca de US$ 19 bilhões mantém-se em níveis pré-2004”, denunciou.
O chefe do Conselho de Assessores Econômicos de Obama, Austan Goolsbee também foi enfático ao dizer recentemente que o objetivo de “dobrar as exportações em cinco anos” visa tirar a economia daquele país do “atual estado de coma em que se encontra”. O conselheiro não entrou em detalhes sobre o papel da inundação de dólares, pelo Fed, nem da artificial desvalorização da sua moeda, para que essa meta seja atingida. Mas, o fato é que o governo americano vem inundando o mundo com dólares - mais de 1 trilhão desde 2008 - com o objetivo de provocar uma baixa artificial do dólar e melhorar a situação de sua balança comercial à custa da economia dos outros países. Essa manobra torna os produtos brasileiros e dos países emergentes mais caros, dificultando as exportações, ao mesmo tempo em que barateia os produtos dos outros países, notadamente dos EUA, facilitando as importações.
No final do ano passado o então chanceler Celso Amorim já tinha chamado a atenção para o problema. Ele frisou que o déficit comercial era com os EUA e não com a China. Com isso ele respondia às afirmações da época de que os problemas na balança comercial estavam sendo causados pelo câmbio chinês. “Nosso saldo com a China deve chegar a US$ 7 bilhões, enquanto temos um déficit de US$ 5 bilhões com os EUA [como vimos o déficit acabou chegando a US$ 7,7 bilhões]. Vamos convir que a China não é o grande problema”, argumentou Amorim. Segundo os números divulgados pelos próprios norte-americanos, os EUA só têm saldos positivos significativos com o Brasil e Austrália ou com pólos de distribuição na Europa (Holanda e Bélgica) e na Ásia (Hong Kong e Cingapura).
O embaixador brasileiro em Washington, Mauro Vieira, também alertou para o crescimento do déficit comercial do Brasil com os EUA. “Este é um tema que tem que ser discutido adequadamente. Queremos mais comércio e investimentos, mas queremos também relações mais equilibradas”, disse Vieira. O embaixador lembrou que até 2007 a balança comercial favorecia o Brasil, mas, após a crise, “ela se inverteu completamente”. “Não é nosso objetivo ter um superávit em relação aos Estados Unidos, mas queremos uma relação comercial que permita tirar o máximo de nossa indústria e sistema produtivo nacionais”, acrescentou Mauro Vieira.
SÉRGIO CRUZ
Nenhum comentário:
Postar um comentário