Em votação apertada Câmara aprova cortes no seguro-desemprego e no abono salarial
- Em uma sessão tumultuada, a Câmara dos Deputados aprovou, na quarta-feira (6), com votação apertada (252 votos a favor e 227 contra) o texto-base da MP 665, que dobra o tempo de trabalho necessário para a requisição do seguro-desemprego de seis para 12 meses e dificulta o acesso dos trabalhadores de baixa renda ao abono salarial, tornando-o também proporcional ao tempo trabalhado. Antes ele recebia o abono integral.A MP faz parte do pacote de maldades do governo contra os trabalhadores. Com o pacote, o governo pretende tirar R$ 18 bilhões dos trabalhadores para pagar juros aos banqueiros.PTA bancada do PT oficializou em nota seu apoio ao pacote do arrocho depois que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ameaçou romper o acordo com o governo, caso os petistas não divulgassem sua posição clara sobre a MP. O PMDB não queria assumir sozinho o ônus de aprovar as medidas contra os trabalhadores. Depois de uma reunião da bancada na véspera, o líder do PT, deputado Sibá Machado, informou que a bancada fechava questão, mas "sem punições aos dissidentes". O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que está sendo investigado pela Operação Lava Jato, considerou satisfatória a decisão anunciada pela bancada petista e conduziu a votação contando com o apoio das lideranças do PT.A oposição utilizou instrumentos previstos no regimento para tentar ao máximo ampliar o debate. "Para que a sociedade tenha o direito de saber o que está sendo votado aqui hoje", disseram os deputados da oposição. O PT e demais partidos governistas insistiam numa votação sumária, de preferência sem ser votação nominal. Depois de muitos embates, acabou havendo um acordo para que a votação fosse nominal. Isto é, a sociedade saberá quem votou pela perda dos direitos. Para a oposição, as medidas provisórias do governo prejudicam o trabalhador mais vulnerável e mais desprotegido. "Estamos tirando dinheiro do trabalhador brasileiro para cobrir o rombo fiscal do país", criticou o líder do PPS, Rubens Bueno (PR). "Isso é uma covardia", acrescentou o presidente do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva.Mesmo com toda a pressão do Planalto, a oposição obteve uma expressiva votação e atraiu dezenas de votos entre parlamentares da chamada base aliada contra o pacote de Dilma/Levy. Nem mesmo as três bancadas mais empenhadas no corte de direitos dos trabalhadores (PT, PMDB e PCdoB) conseguiram unidade na votação. Dos 67 integrantes da bancada do PMDB, treze votaram contra e três não compareceram à sessão. Na bancada petista, nove parlamentares não compareceram e um, o deputado Weliton Prado (MG) votou contra. E no PCdoB, dois parlamentares se rebelaram contra o ataque aos direitos dos trabalhadores. A deputada Jandira Feghali disse que era contra a proposta, mas votaria a favor, porque "tem lado". Houve grande perplexidade diante da estranha declaração de deputada.Sindicalistas ocuparam as galerias desde as primeiras horas de votação da medida provisória para protestar contra a perda de direitos. Eles cantavam e gritavam palavras de ordem contra o pacote. O deputado Bruno Araújo (PSDB-CE) questionou a ausência de dirigentes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) nas galerias. "A CUT traz uma cota pequena de seus sindicalizados. Aliás, não se ouve a CUT. Vamos assumir uma posição enfática contra a medida provisória. Queremos ver a CUT nas ruas. Essa posição é de verdade ou de mentirinha?", questionou Araújo. Alguns membros da CUT do Distrito Federal estavam presentes, mas em pequeno número e sem muita ênfase, apesar de carregarem cartazes contra as MPs 665 e 664.A Força Sindical estava com um grande número de sindicalistas nas galerias. Estava presente também o presidente da CGTB, Ubiraci Dantas (veja entrevista nesta página). Os sindicalistas foram repreendidos por Eduardo Cunha. Eles gritavam palavras de ordem como "trabalhador unido, jamais será vencido" e "não ao pacote do arrocho". Eduardo Cunha decidiu então expulsá-los das galerias. Nesta hora, os trabalhadores jogaram sobre a bancada governista papéis que imitavam cédulas de dólar com imagens de Dilma, de Lula e do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, preso na Operação Lava Jato.O deputado Orlando Silva, do PCdoB, propôs que Cunha tomasse medidas judiciais contra os manifestantes. Segundo ele, aquela manifestação dos trabalhadores era uma "afronta à democracia e ao parlamento". Ao contestar o pedido de Silva, o deputado Roberto Freire (PPS-SP) precisou afastar a mão da deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) de sua frente e houve um princípio de tumulto. Nessa hora as bancadas do PCdoB e do PT tentaram desviar a atenção da discussão sobre o pacote de arrocho - apoiado por eles - para um suposto "conflito de gêneros" dentro da casa. Logo a manobra se esvaziou e a votação prosseguiu.O PSB, o Solidariedade, o PDT, o PPS, o PSoL, o PHS, PSC secundados pelo PSDB, e o DEM agiram coesos na denúncia do desvio de dinheiro dos trabalhadores para engordar banqueiros e votaram majoritariamente contra a MP 665. Quase derrotaram a proposta do governo. As emendas ao texto-base ainda serão votadas nesta quinta-feira. Duas delas foram rejeitadas também por votação apertada ainda na sessão de quarta-feira.TRAIÇÃODurante os debates, os parlamentares da oposição contestaram as tentativas ridículas de petistas e demais partidos governistas de esconder as perdas de direitos por parte dos trabalhadores com a aprovação da MP 665. "Se não há perdas, então como o governo quer economizar R$ 18 bilhões para fazer caixa para pagar juros? De onde vai sair esse dinheiro, senão dos trabalhadores?", questionou o deputado Moroni Torgan (DEM-CE). "Se não vai mudar nada, porque, então, estamos discutindo essa proposta", indagou Heráclito Fortes, do PSB. A deputada Maria do Rosário (PT-RS) insistiu que não haveria perdas e foi ridicularizada pelos presentes. Quando a proposta foi votada, os parlamentares da oposição cantaram em coro a música consagrada por Beth Carvalho: "Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão". Uma alusão como se tivesse sido escrita ontem para ilustrar fielmente a traição hoje do PT aos trabalhadores.O texto de Paulo Rocha (PT-PA) que modificou a proposta original do Executivo impõe ainda ao trabalhador desempregado um novo requisito para o recebimento do seguro: ele será obrigado a frequentar um curso de qualificação profissional ofertado por meio do programa Bolsa-formação Trabalhador, no âmbito do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), ou com vagas gratuitas na rede de educação profissional e tecnológica. Essa medida já existia, mas não era obrigatória. Agora o desempregado vai ter que comprovar matrícula e freqüência num curso desses. Ou seja, o petista acrescentou mais um obstáculo para o acesso dos desempregados ao seguro-desemprego. Tudo para sobrar mais dinheiro para os banqueiros.SÉRGIO CRUZ
- http://www.horadopovo.com.br/
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