Discurso pronunciado na Hora da Independência, em 07 de setembro de
1951.
GETÚLIO VARGAS.
A independência econômica não se
adquire necessariamente com a independência política: é tarefa lenta e difícil,
que se arrasta por muitos decênios, que às vezes se retarda por s[éculos e cujo
êxito final depende de inúmeros fatores, alguns previsíveis, outros
condicionados aos fenômenos gerais da organização mundial.
A independência política é ato de força, que se prepara como revolução
e que se concretiza num instante decisivo, criando uma nova ordem jurídica e
traçando sobre o mapa continental os limites de uma nova soberania. Uma vez
conquistada, ela se impõe como fato e como direito e seus efeitos perduram,
desde que o povo, que se fez independente, saiba conservar - como nós temos
sabido - o bem que adquiriu..
Muito diversa é a independência econômica. Não provém de revolução, mas
de um processo evolutivo, que se vai completando a pouco e pouco. Não cria uma
nova ordem jurídica, porém transforma lentamente a ordem já criada, procurando
adaptar o formalismo das normas às exigências materiais da vida humana em
sociedade. Não traça o mapa das nações nenhum limite novo de soberania, mas delimita,
dentro do próprio meio social, a independência real do individuo e as condições
fundamentais da vida – o bem-estar, a felicidade, os confortos indispensáveis à
fecundidade do trabalho, e, de modo geral, aquele principio equitativo que
aconselha uma gradativa e proporcional distribuição da riqueza, dos bens
materiais e das amenidades da existência entre os que trabalham e produzem.
Essa tarefa não é obra de uma geração, nem apanágio de um século: é uma
soma infinita de esforços sucessivos, é produto de um longo período de
adaptação às circunstâncias da vida em comum e às condições da própria economia
mundial. A bem dizer, a independência econômica não tem um dia decisivo de
ultimar-se, não pode fixar-se numa única data histórica, como a independência política,
que hoje celebramos com o mesmo orgulho e o mesmo entusiasmo com que temos feito
há cerca de cento e trinta anos.
A independência econômica é um eterno processo de desenvolvimento, uma
sucessão de ciclos que se ampliam que não raro se renovam, e que parecem
desconhecer qualquer termo final. Para sustenta-la, portanto, para consolida-la
e para dilata-la, é preciso manter sempre aceso o fogo sagrado e vigilante do
nosso patriotismo e do nosso devotamento a causa pública. Todo novo governo tem
por missão vencer mais uma fase desse processo: e o caminho percorrido será
tanto maior quanto melhor forem assimiladas e compreendidas a grandes necessidades
populares.
Aproximar-se do povo, auscultar-lhes as aspirações profundas,
sentir-lhe a miséria, o sofrimento, o clamor de desespero que se levanta das
camadas desfavorecidas da fortuna, acompanhar de perto os reclamos da
subsistência individual, penetrar nas crises profissionais e domesticas ouvir
os apelos que saem dos lares, das oficinas, das fábricas, das escolas, fazendas
e dos campos; procurar resolver as crises, melhorar as condições de vida, aumentar
o conforto e assistência aos que trabalham proporcionar a todos os homens
padrões mais altos de existência e igualdade de oportunidade na luta pelo pão
cotidiano – essa grande e primordial missão de todos os governos.
E, fazendo isso, estamos construindo lentamente a independência
econômica e lutando contra seus principais inimigos, que são o imperialismo, na
esfera internacional, e a exploração do homem pelo homem, no meio interno.
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