domingo, 2 de junho de 2013

Requião: “leilões de petróleo são antinacionais e injustificáveis”


 “Como defender, como justificar, mais esta rodada de leilões
de petróleo”?, questionou o senador do PMDB paranaense
Em discurso feito na terça-feira (28), o senador Roberto Requião (PMDB-PR) criticou a onda de privatizações anunciadas recentemente pelo governo e chamou a decisão do Planalto de realizar os leilões do petróleo como uma "grande desgraça para os brasileiros". "Poucas vezes ouvi e li argumentos tão oportunistas, tão antinacionais, tão frágeis e tão pouco honestos a favor de alguma coisa, como os em defesa dos leilões", afirmou Requião.
"Ao ouvir e ler fiquei triste porque vi mais companheiros abandonando posições na barricada em defesa dos interesses populares e nacionais", assinalou o senador paranaense, referindo-se a lideranças do PT e de outros partidos que se consideram de esquerda, defendendo a entrega do petróleo de áreas dentro e fora do pré-sal para as multinacionais.
"Que tantos tenham desertado de antigas defesas, comprova-se todos os dias. Mas não esperava que a desistência ampliasse tanto. Meu Deus! Como defender, como justificar, mais esta rodada de leilões de petróleo?", indagou, referindo-se à 11ª Rodada de leilões de petróleo realizada no dia 14 de maio pela Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANP). "Na verdade não é só o leilão do petróleo; e nem é fortuita, ocasional a coincidência que a privatização dos portos tenha sido aprovada no dia seguinte ao dos leilões", acrescentou Requião.
Lembrando as estradas, os aeroportos, as hidrelétricas, os portos e o petróleo, Requião afirmou estar se somando aos que denunciam que está havendo o maior processo de privatizações na história do Brasil. O senador destacou ainda que "ao se colocar recursos financeiros e humanos das estatais, como o BNDES, a Petrobrás, a Caixa e o Banco do Brasil, a serviço de entes privados, temos as chamadas privatizações brancas". Nesta parte do discurso Requião fulminou o uso de recursos do BNDES para financiar grupos privados monopolistas, principalmente estrangeiros.
O parlamentar peemedebista condenou o leilão da 11ª Rodada. "Foram entregues à iniciativa privada, a um capitalismo claudicante, baleado pela crise, 289 blocos [esse foi o número ofertado pela ANP; 142 blocos foram adquiridos no leilão] para a exploração de petróleo, com potencial, segundo cálculos moderadíssimos, de se produzir até 14 bilhões de barris ou quem sabe até 19 bilhões".
Ele lembrou que o que se arrecada nesses leilões "é uma quantia que representa zero vírgula vinte e cinco por cento do valor dos blocos".
"O economista Adriano Benayon, citando o químico Roldão Simas, diz que o valor arrecadado dá para reformar um estádio de futebol para a Copa; ou como diz o PCB, dá para pagar a reforma do Maracanã, com o devido ágio à corrupção".
"A ANP, talvez das agências reguladoras a mais querida da mídia e do mercado, disse que nos blocos licitados deverão ser descobertos 19 bilhões de barris de petróleo e gás, que serão exportados!", denunciou Requião.
Ele destaca que o Brasil não precisa exportar o petróleo. "Especialistas de verdade como Fernando Siqueira [vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás - Aepet] e Paulo Metri [conselheiro do Clube de Engenharia], e não aqueles especialistas de fancaria que frequentam, os noticiários globais, peritos como Siqueira e Metri perguntam: ‘Quem definiu que a exportação desse petróleo é a melhor opção para o Brasil?’. "Enquanto os Estados Unidos proíbem a exportação de petróleo, olhando para frente, nós fechamos os olhos à trágica experiência de países exportadores, que queimaram suas reservas por nada, para nada", salientou o senador.
Requião criticou o comportamento de certos partidos de esquerda que freqüentemente, depois que assumem o poder, passam a defender posições favoráveis aos monopólios estrangeiros e aos banqueiros. "Discute-se muito hoje na Europa, com a falência do modelo neoliberal, junto do qual se enterraram os partidos ditos de esquerda", disse. "Discute-se muito uma refundação da esquerda. A exaustão dos partidos trabalhistas, socialistas e social-democratas, abduzidos pelo neoliberalismo e campeões na aplicação das políticas de austeridade, fez espocarem novos agrupamentos de esquerda por toda a Europa", acrescentou. "Na Inglaterra, o cineasta Ken Loach lança apelo por um novo partido, considerando definitiva, irrecuperável, a guinada do Partido Trabalhista para a direita", prossegue Requião.
Ao falar do Brasil ele destacou que "por cinco vezes, não uma ou duas, e sim por cinco vezes acompanhei o PT nas eleições presidenciais". "Nas circunstâncias de hoje, fossem esses que se anunciam os candidatos, acompanharia o PT pela sexta vez. No entanto, parece claro que o PT está à deriva, distancia-se da esquerda".

"Como já não é mais possível classificar como de esquerda os partidos da base, que ainda assim se dizem, em que pese as posições hoje assumidas. É à esquerda, pela esquerda, que construiremos o país e a sociedade que almejamos há tanto tempo. Não há outra saída. Boa parte da esquerda tradicional, como a camélia, caiu do galho, depois murchou, depois morreu", completou.

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