No dia 16 de abril de 2013, o Comitê de Política Monetária do Banco Central iniciou a sua reunião mensal, que concluiria, no final da tarde do dia 17, com um anúncio escancaradamente cobrado pela chamada grande mídia brasileira: as taxas de juros tiveram elevação, passando de 7,25% para 7.5%, um fato que não ocorria desde o ano de 2011.
Os dias que antecederam à reunião do COPOM foram de uma descarada pressão da chamada grande mídia sediada no eixo São Paulo/Rio/Belo Horizonte, amplamente favorável à alta dos juros.
Espaços nobres de jornais, revistas e televisão foram invadidos, de forma maciça, sistemática, com ares de organização, pela ideia de que a inflação nacional havia fugido do controle do governo e que dias sombrios estariam chegando.
Na Época, a principal manchete foi "Ameaça de Inflação - Por que o Governo pisou no tomate". A Veja, saiu com essa : "Inflação - Dilma pisou no Tomate". O Jornal O Globo daquele domingo brindou seus leitores na mesma direção: "Inflação passa teto da meta e juro pode subir".
Na mesma linha das revistas e do principal jornal do Rio, a intenção de pauta do colar de tomates era debochar de um governo que perdera os freios da inflação, que estaria levando o país à derrocada, por não ter competência para controlar sequer o preço desse legume tão popular à mesa dos brasileiros.
Resultado prático e imediato disso: encarecimento dos financiamentos, um ônus imerecido, injusto, desumano, so-bre os trabalhadores, os assalariados, para todos aqueles milhares de brasileiros e brasileiras que emergiram da linha da miséria- sob os Governos Lula e Dilma -, e se instalaram com algum conforto no universo do consumo, passando a ter direito e acesso a geladeiras, fogão, televisores, motos, até carros, casa própria, coisas inimagináveis até o fim dos domínios neoliberais de FHC.
A permanecer essa submissão do PROCOM à pressão midiática pela elevação dos juros, as conseqüências seguintes serão a estagnação da economia e a retração dos empregos, uma conquista irrefutável dos últimos governos.
Mas o que, de fato, move essa mídia? O que há, realmente, por trás desse interesse desmedido pela criação de um ambiente coletivo de insegurança econômica que justifique a elevação dos juros?
Sem sombras de dúvidas os banqueiros brasileiros. Capitaneados por seu líder, Roberto Setúbal, presidente do Itaú Unibanco, valem-se de interlocutores saudosos dos tempos neoliberais, encastelados nos escritórios de São Paulo, em centros de estudos duvidosos, no Congresso Nacional e em setores estratégicos da mídia, que eles alimentam a peso de ouro.
Revejo a revista Exame que publica reportagem acerca dos lucros obtidos pelos 13 principais bancos brasileiros no exercício de 2012. O Itaú Unibanco, do influente e articulado Roberto Setúbal, alcançou lucro fantástico R$ 13.5 bilhões, o segundo maior da história do banco, mas, embora assim, teve uma queda nos ganhos de 7%.
O Bradesco lucrou R$ 11.3 bilhões, com queda de 3% nos ganhos e o Santander, R$ 6.3 bilhões. Mesmo tendo obtido R$ 3.412 bilhões de lucro no primeiro trimestre de 2013, crescendo 1.4% em relação ao mesmo período de 2012 e sustentando uma rentabilidade altíssima de 19.1%, o Itaú Unibanco demitiu 700 funcionários neste semestre.
Ainda que ostente rentabilidade elevada e tenha voltado a ter crescimento percentual nos lucros neste começo de 2013, é difícil, para os padrões desses banqueiros, aceitar uma queda percentual nos ganhos, como correu em 2012.
Ademais, é também inaceitável que Banco do Brasil e Caixa Econômica, dois bancos oficiais e principais agentes de financiamento dos novos consumidores, sobretudo dos programas da casa própria, tenham entrado no mercado de modo incisivo, corajoso, dividindo com os privados fatias de um bolo que era só deles.
Daí, a fome dos banqueiros ter aumentado de forma insaciável. E o caminho mais curto é tornar mais caro o financiamento dos que menos podem, mas que hoje são uma imensa maioria no mercado nacional. Tirando desses, crescem as margens de ganhos de quem detém o poder econômico e sustenta uma mídia que não está enxergando a realidade.
Elevar os juros seria uma forma de punir o Governo que pôs tantos pobres no mercado consumidor, mas teve o despropósito de colocar Banco do Brasil e Caixa Econômica para estreitar o longo caminho dos lucros fáceis.
Termino essa análise com uma observação lúcida que nos traz o sociólogo e educador francês Edgard Morin: "A dominação de um capitalismo financeiro desconectado da economia real, voltado para o interesse exclusivo dos especuladores, provocou a crise econômica de 2008 e, como um vampiro, continua a se saciar de nossas substâncias vivas".
Merlong Solano Nogueira - Deputado Estadual - PT Professor da UFPI - Secretário das Cidades
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