quinta-feira, 31 de março de 2011

ESPERA-SE PROTESTO DA MIDIA BRASILEIRA, CONTRA A CENSURA

PÁGINA REMOVIDA DO FACEBOOK
Página removida do Facebook Página palestina removida do Facebook

Facebook remove página da “Terceira Intifada Palestina”

O site facebook removeu do ar a página palestina "Terceira Intifada", seguindo ordem do governo de Israel. A página conclamava uma manifestação para 15 de maio, dia da Nakba (Catástrofe) de 1948.

A ordem para a retirada da página partiu do ministro israelense Yuli Edelstein, que falou diretamente com Mark Zuckenburg e exigiu a retirada da página.

Mais de 340 mil pessoas já haviam se inscrito na página que conclamava uma manifestação para o dia 15 de maio.

A data comemora a Nabka (catástrofe) Palestina de 1948, quando centenas de milhares de palestinos foram expulsos de seus lares milenares para que fosse criado o estado de Israel.

Nas últimas três décadas, os palestinos lançaram duas Intifadas, a primeira em 1987, a segunda em 2000. Até o momento ninguém no Ocidente protestou contra a remoção da página. Lamentável.

Fonte: Blog do Bourdoukan, reproduzido pelo site Vermelho.
Obs.: Espera-se para breve o protesto veemente da mídia brasileira contra mais esse ataque à liberdade de expressão. O governo de Israel certamente será tratado com os mesmos adjetivos dedicados a Hugo Chávez... Vamos aguardar!
Os ricos não podem mais viver numa ilha rodeada por um mar de pobreza. Nós respiramos, todos, o mesmo ar. Devemos dar a cada um, uma chance, ao menos uma chance fundamental”. (Ayrton Senna)

Valeu, Zé Alencar!



"Peço a Deus que não me dê nenhum tempo de vida a mais, a não ser que eu possa me orgulhar dele". (José Alencar, 1931 - 2011)

Lula e Zé Alencar, uma amizade verdadeira



No final deste vídeo, após as declarações de Lula na entrevista coletiva, um trecho inédito, com uma das últimas visitas do presidente Lula ao seu amigo e vice-presidente José Alencar no hospital. Lula dizia que ambos subiram juntos a rampa do Planalto e desceriam juntos, após passar a faixa presidencial para Dilma.

Lula diz:

- Não há hipótese de haver uma amizade mais forte [do que a deles]...

Alencar foi vice durante 8 anos e, em 2005, quando houve o escândalo do mensalão, nunca conspirou para desestabilizar Lula e herdar a presidência. Pelo contrário, foi leal e deu total apoio ao presidente Lula, e foi solidário com aqueles que estavam sendo acusados injustamente pela oposição e pela imprensa.

Nos 8 anos de mandato, José Alencar assumiu a presidência por 398 dias, durante as viagens internacionais do presidente Lula. Com isso, Alencar foi presidente do Brasil por mais de um ano, no total.


Essa reportagem de uma TV portuguesa mostra como foi a premiação do presidente Lula em Portugal, porque se dependermos da imprensa brasileira, que é quase toda demo-tucana, só sai coisa contra, ou notinha escondida...



O vídeo completo da cerimônia só está disponível em inglês. Infelizmente o som original foi substituído pela tradução. Quem quiser vê-lo, está disponível
aqui

Na propaganda da Vale para chinês ver, gera empregos na indústria naval... da China

 
A propaganda da Vale S/A para chinês ver, em 2009 (extraído do canal ValeBraZil com "Z"):


Ronaldo: Eu sou o Ronaldo e eu sou do Brasil. E a Vale é a maior mineradora do meu país e é também a ponte de estímulo o comércio Brasil-China.
Locutor: O minério de ferro da Vale contribui há muito tempo para o desenvolvimento da China.
Ronaldo: A Vale investe na China...
Locutor: A Vale tem minas de carvão e de níquel na China e investiu US$ 1.6 bilhão na construção de 12 navios chineses.
Ronaldo: A Vale gera empregos na China
Locutor: A Vale ajuda na criação de milhares de empregos no país através de suas parcerias com empresas chinesas.
Ronaldo: A Vale compra equipamentos da China
Locutor: Só em 2008, a Vale comprou US$ 1,9 bilhão da China em equipamentos. E este ano vai continuar comprando ainda mais da China.
Ronaldo: A Vale valoriza seus negócios na China.
Locutor: A Vale valoriza as relações de longo prazo com os principais produtores de ferro do país e se importa ainda mais pelo desenvolvimento futuro da China.
Ronaldo: Vale, a ponte que estimula para o comércio Brasil-China

A propaganda da Vale S/A para brasileiro ver, em 2007:



A vale é um negócio da China, para os banqueiros acionistas e para a China: Investe lá. Gera empregos na indústria naval da China. Compra equipamentos da China... e ao Brasil só cabe vender minério de ferro para a China?

Em 2007/2008 a Vale andou fazendo uns anúncios na TV brasileira, entre eles o video acima, dizendo que era uma empresa brasileira: "é possível fazer sucesso no mundo, sem nunca deixar de ser brasileiro", diz o anúncio, quase no fim.

Agora, no sítio dela na internet, diz que não é bem assim. Diz que uma empresa "GLOBAL com sede no Brasil". Não diz que é uma empresa BRASILEIRA.

É por isso que a Vale precisa ficar com maior controle dos maiores acionistas, o governo brasileiro através do BNDESpar e a PREVI.
quarta-feira, 30 de março de 2011

Bradesco desmente notícia falsa da Folha

Em nota enviada à imprensa na tarde desta quarta-feira (30), o Bradesco desmentiu o jornal Folha de São Paulo.

O jornalão publicou que o Bradesco teria indicado o economista Tito Botelho Martins para substituir Roger Agnelli na presidência da Vale.

O banco disse que "declara improcedentes as informações da reportagem envolvendo a instituição no jornal Folha de S. Paulo".

Mesmo condenada a pagar imposto no Brasil, Vale recorre ao tribunal de Gilmar Mendes para não pagar

A mineradora Vale está com sérios problemas de compatibilidade com os interesses da nação brasileira.

Primeiro está sendo cobrada em
R$ 4 bilhões de royalties de mineração pelo DNPM (Departamento Nacional da Produção Mineral), em favor dos estados de Minas Gerais e do Pará, e entra com recurso na justiça para não pagar.

Agora faz o mesmo para
não pagar impostos sobre os lucros ganhos a partir do dinheiro brasileiro, da matriz "brasileira", investido no exterior.

A própria Vale informou, com outras palavras:

- que havia entrado com mandado de segurança contra a tributação no Brasil dos lucros das filiais e subsidiárias no exterior.

- que o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) julgou que a empresa tem que pagar o imposto no Brasil, sim.

- que recorrerá aos tribunais superiores (STJ e STF) para não pagar, alegando que no tribunal onde Gilmar Mendes dá batente, há julgamento de causa semelhante que permanece empatado.

A ação vem desde 2003, quando a Vale entrou com um processo questionando a validade do artigo 74 da Medida Provisória 2.158-34 de 2001, que determinava o pagamento do imposto de renda no Brasil sobre a receita líquida das subsidiárias estrangeiras.

A Vale alega "bitributação", dizendo que já paga impostos no estrangeiro.

Então cabe a pergunta: por que ela não entre na justiça estrangeira, alegando bitributação lá, dizendo que tem que pagar impostos aqui?
(Com informações do Valor)

quarta-feira, 30 de março de 2011

O serpentário do neoliberalismo: um estudo da idiotice econômica (6)


O neoliberalismo não é a primeira histeria reacionária que substitui ideias por uma ladainha de slogans. O nazismo também era assim. Se o leitor estranhou a referência, pedimos que lembre os milhões de seres humanos que morreram no desemprego e na fome durante os últimos 30 anos

CARLOS LOPES

Não há questão onde se condense com mais nitidez o cunho do neoliberalismo do que a da inflação.
 
Bastante comum é a confusão entre o receituário para a inflação do antigo monetarismo, que nós conhecemos durante a ditadura, e o dos neoliberais. Trata-se de um engano, induzido pela própria propaganda neoliberal, semelhante àquele que identifica o mercado tão perfeito quanto Deus - típico da vulgaridade dita “neoclássica” - com o neo-credo posterior, no qual esse mercado é apenas retórico, ou, melhor, midiático no pior sentido da palavra.
 
Da mesma forma que os neoliberais não acreditam num mercado que equilibra a si mesmo, também não acreditam que a contenção da demanda (isto é, o garroteamento do consumo da população, esmagando um dos lados do “conflito distributivo” dentro de um país) seja remédio para a inflação. Naturalmente, eles também são a favor de conter a demanda, mas por outras razões – basicamente porque a produção “desvia” dinheiro da especulação.
 
A diferença de fundo consiste em que o ponto de vista neoliberal não é mais aquele – como o era, sofrivelmente, o dos “neoclássicos” – da economia de um país. Pelo contrário, o único ângulo sob o qual veem a economia é o dos monopólios e cartéis dos países centrais, mais exatamente, o do financismo transnacional. Note-se, inclusive, que isso também não é o ponto de vista da economia nacional desses países centrais – nem mesmo a dos EUA. Não são, por exemplo, os interesses da economia norte-americana em geral que eles defendem, mas apenas aqueles do seu setor mais parasitário. 
“LIVRE MERCADO” 
Ao contrário dos seus antecessores, eles assumem, na prática (embora não em seus panfletos), que o “livre mercado” não existe mais, que a economia dos países centrais foi encarcerada por monopólios financeiros, que a economia internacional é um pasto das multinacionais, de alguns bancos e de peixes menores que comem o que os maiores já digeriram. Sua – digamos assim – originalidade está em que são a favor de tudo isso, e acham pouco: querem que o mundo todo seja submisso a essa pilhagem.
 
Assim, seu pseudo-combate à inflação consiste em despejar sobre os países dependentes os estoques de mercadorias encalhadas dos monopólios que têm sua matriz nos países centrais. Para fazê-lo, receitam a manipulação do câmbio dos outros países – isto é, fazem com que os países dependentes concedam fenomenais subsídios cambiais para baratear artificialmente as mercadorias importadas, em relação às produzidas internamente.
 
Daí, as aberrações no câmbio impostas burocraticamente - a la Menem & Fernando Henrique - ou pela tapeação, a la Meirelles, com taxas de juros extorsivas para atrair dólares, hipervalorizando a moeda nacional, além de intervenções cavilosas no fechamento do “mercado de câmbio”.
 
Para explicitar a questão: em 1991, que lógica havia, num país como a Argentina, com um PIB que era 31 vezes menor que o dos EUA, em decretar que um peso valia um dólar?
 
A lógica era fazer com que os produtos importados, barateados em relação à produção interna por essa supervalorização do peso, invadissem a economia argentina.
 
Isso explica, também, outro fenômeno: o Brasil, nos oito anos anteriores ao governo Fernando Henrique, importou mercadorias no valor total de US$ 168,510 bilhões (1987-1994); esse valor mais do que dobrou no governo tucano: US$ 428,586 bilhões (1995-2002); e dobrou mais uma vez nos oito anos seguintes, com Meirelles no BC: US$ 879,159 bilhões (2003-2010).
 
Em suma, a média anual foi de US$ 21 bilhões para US$ 109,9 bilhões – portanto, o valor das importações mais do que quintuplicou entre 1994 e 2010.
 
Não precisamos dizer que não foram, em geral, importações de mercadorias que não fabricássemos ou não pudéssemos fabricar. O leitor tem sua própria experiência para comprová-lo.
 
Há quem tenha a opinião de que essa avalanche de importações é normal, que isso é um sinal de crescimento, etc.  Mas é preciso, na melhor das hipóteses, estar anestesiado para ter essa opinião, pois, para começo de conversa, isso significa que o país está impedido de crescer além de certo limite – ou haverá um estouro nas contas externas, devido às importações (sem contar, para piorar a situação dessas contas, o aumento das remessas de lucros devido à desnacionalização da economia).
 
O meio de executar essa substituição da produção interna por importações foi a hipervalorização do real. Depois do terrível período em que Fernando Henrique devastou a indústria nacional com a imposição de uma quase completa paridade com o dólar, a ação do Banco Central fez com que sua cotação, de R$ 3,60 (início de 2003 – dólar médio desse ano: R$ 3,07), hoje mal se aguente em torno de R$ 1,65 (cf. BB, “Indicadores Econômicos Financeiros” e BCB, “Boletim/BP”; usando a cotação média de cada ano e descontando a inflação, verifica-se que nenhuma das moedas dos 40 países de maior relação comercial com o Brasil sofreu “valorização” comparável ao real).
 
Não faremos comentários sobre os que propagandeiam esse estrupício como a conquista, enfim, pelo país, de uma “moeda forte”. Nossa paciência com a idiotice também tem seus limites. Se isso fosse bom, os EUA não estariam atropelando todos os outros países para desvalorizar o dólar.
 
Voltemos à inflação.
 
O problema desse “método” é conhecido (e óbvio): o imenso subsídio cambial às importações para barateá-las (a rigor, um dumping cambial) deixa a indústria nacional, que tem seus produtos encarecidos pela mesma razão, sem condições de competir - e não por uma deficiência dela, mas porque a política monetária é de favorecimento aberto aos monopólios externos. E não somente a indústria é afetada, como lembrou o senador Blairo Maggi, dono do grupo empresarial que é o maior produtor de soja do mundo, durante o recente depoimento do atual presidente do BC ao Congresso.
 
Por um meio totalmente artificial e manipulatório, uma taxa de câmbio irreal, tira-se a competitividade dos produtos fabricados dentro do país e paga-se aos monopólios externos para que quebrem o que há de nacional na economia – pois as filiais de multinacionais simplesmente passam a importar o que antes produziam aqui. Além disso, com o encarecimento do que é produzido em reais, as exportações são crescentemente travadas.
 
Já havíamos, várias vezes, abordado esse problema. Mas há outro: tão logo os monopólios e carteis quebram ramos da indústria nacional, aproveitam-se do domínio sobre o mercado para aumentar, de qualquer jeito, os preços dos produtos importados - sem que haja indústria nacional que possa substituir as importações, o suposto “combate” à inflação vai para o espaço.

É exatamente um ensaio disso que está acontecendo neste início de ano, com um aumento nos preços dos importados.
 
Era inevitável que isso acontecesse quando há uma crise nos países centrais. Quanto a isso, são inúteis as convocações do ministro Mantega aos demais países do mundo (“Vou fazer um apelo para que os países entendam o seguinte: ou todos fazemos um jogo comum, respeitando as regras de câmbio flutuante, ou cada um vai buscar seus interesses, o que vai causar conflitos”).
 
Parece até que há dúvidas sobre qual é – e sempre foi - a opção dos monopólios norte-americanos, europeus e japoneses...
 
Mais ou menos a mesma coisa é a alternativa do sr. Tombini, presidente do BC: em vez de reduzir os juros escorchantes, principal causa da hipervalorização do real, esperar que os outros países aumentem os seus juros (“a situação de juros baixos no mercado internacional não é uma situação permanente. Portanto, os juros lá fora devem voltar a crescer e ajudar a taxa de câmbio doméstica a se desvalorizar”). Tombini acrescentou que “ninguém tem bola de cristal” (sic) para saber quando isso acontecerá.  Ainda bem. Agora estamos todos tranquilos.
 
Como os leitores sabem, não somos admiradores da política do sr. Luciano Coutinho no BNDES, mas ele tem toda razão ao declarar que “a apreciação da taxa de câmbio é nociva. Não podemos ser ingênuos. Temos que proteger a competitividade das empresas e a geração de empregos no Brasil”.


“METAS” 
Esse “método” de tratar a inflação é apenas um subproduto do que realmente interessa aos neoliberais: descarregar nos países dependentes as mercadorias dos monopólios multinacionais, desindustrializando ou impedindo a industrialização dessas economias, tornando-as mercados cativos.
 
Então, para que serve o “sistema de metas de inflação”?
 
Esse sistema pode ser resumido brevemente: estabelecida uma “meta” de inflação, qualquer desvio em relação a essa meta significa um aumento automático da taxa de juros básicos, isto é, da taxa que é o piso dos juros na economia. Naturalmente, o ganho com juros é, precisamente, a diferença entre sua taxa nominal e a inflação. Quanto maior essa diferença, maior o ganho dos bancos e demais especuladores. Quanto mais elevados os juros nominais e mais baixa a inflação, maiores os juros reais – que são o ganho dos que especulam com a dívida pública.

CONDIÇÕES 
Como elementos correlatos do “sistema”, estão uma série de condições - necessárias, segundo seus defensores, para que ele funcione. A mais peculiar delas é chamada “taxa natural de desemprego”, isto é, uma parcela da população (no Brasil há quem discuta se são seis, oito, dez, doze ou quinze milhões de pessoas) tem de estar permanentemente desempregada para que os salários não aumentem, pois isso causaria inflação...
 
Procuramos fornecer a descrição mais neutra que conseguimos desse maravilhoso sistema. Mas, continuemos.
 
O autor mais citado pelos defensores do “sistema” – e seu maior entusiasta – é o atual presidente do banco central (Fed) dos EUA, Ben Bernanke, co-autor de “Inflation Targeting: Lessons from the International Experience” (Princeton University Press, 1999).
 
Sendo assim, por que o banco central dos EUA jamais adotou, nem pretende adotar, qualquer sistema de “metas de inflação”?
 
Uma pergunta adicional: por que a União Econômica e Monetária Europeia exige dos países que pretendem adotar o euro que não usem esse “sistema”, inclusive obrigando a Finlândia e a Espanha a abandoná-lo? Na União Europeia, os únicos países que o usam são os que não adotaram o euro – a Inglaterra, cada vez mais uma colônia econômica norte-americana, e a Suécia, que seguia por esse caminho infeliz (com a crise, ambos foram obrigados a “ajustar” o sistema com uma colossal redução nos juros, pois os bancos ameaçavam levar-lhes até o que não é educado falar em público).
 
Mais uma pergunta adicional: por que o Japão não usa esse sistema?
 
A resposta a essas perguntas, certamente, não é a fornecida pelo sr. Bernanke: a de que esse sistema é bom para os outros, que têm inflação alta. Até porque, quando o então presidente do BC, Armínio Fraga, fez o país adotá-lo, a inflação não era alta no Brasil. A mesma coisa aconteceu nos outros países que adotaram o sistema: como lembrou recentemente o economista Yoshiaki Nakano, “esse sistema foi criado num contexto desinflacionário” (cf. Valor Econômico, 16/03/2011, grifo nosso). Não foi para combater a inflação, portanto, que ele foi instituído.
 
A resposta a essas perguntas, na verdade, tem mais relação com a carreira do sr. Fraga no Quantum Fund, de Soros e dos Rothschild, do que com a inflação.
 
Esse sistema é “desenhado” para que os bancos e fundos norte-americanos (os últimos, em geral, com sede oficial em lugares como as Cayman ou Curaçao) aumentem seus ganhos com os papéis da dívida de outros países. Ele é, meramente, uma forma de aumentar a drenagem de recursos, via juros, para os EUA. Certamente, também um fundo japonês poderá se beneficiar desse sistema no Brasil. O que os japoneses (e europeus) não querem é um sistema que beneficie (e escandalosamente) os bancos e fundos norte-americanos no Japão (ou na Europa do euro). Aliás, nem os norte-americanos querem um sistema que poderá beneficiar fundos e bancos de outros países nos EUA...
 
Qual o resultado desse sistema no Brasil?
 
Segundo o “Financial Times”, órgão da City londrina, em artigo publicado antes dos dois últimos aumentos de juros, “o capital internacional está submergindo o Brasil [pois os títulos] “fornecem uma taxa líquida de cerca de 11%. ‘Isto é mais alto do que você pode conseguir em qualquer outro lugar’, disse Kieran Curtis, administrador de fundos em mercados emergentes da Aviva Investors, que gerencia 1,3 bilhão de libras esterlinas em títulos de países emergentes” (cf. “Brazil ready to retaliate for US move in ‘currency war’”, FT, 04/11/2010).
 
As “metas” são um artifício para esticar, e haja esticamento, o ganho com os juros. O golpe (não encontramos palavra mais adequada) é estabelecer uma meta de inflação a mais baixa possível e uma taxa de juros a mais alta possível, e amputar o crescimento, o emprego, os salários, os lucros dos empresários produtivos, as despesas correntes, os gastos sociais, os investimentos - em suma, o Orçamento – para que se “adaptem” a essa esbórnia.
 
Por isso, a definição de qual é a “meta de inflação” nada tem a ver com a economia real, mas com os ganhos dos bancos e demais especuladores (se o leitor tiver humor para tanto, cf. a discussão, inteiramente maluca, sobre qual deve ser a “meta” na Inglaterra, no artigo de um professor que leciona em renomado templo neoliberal, a London School of Economics: Charles Bean, “The New UK Monetary Arrangements: A View from the Literature”, The Economic Journal, Londres, nov./1998).
 
Quando os bancos querem ganhar mais – e sempre querem – a “meta de inflação” torna-se insuficiente e passa-se a falar em “centro da meta”. Por exemplo, atualmente, no Brasil, a “meta de inflação” é uma faixa que vai de 2,5% a 6,5%. Mas, segundo a teoria importada pelo sr. Meirelles, o que interessa é o “centro da meta” (4,5%). Qualquer número que vá além desse “centro” demanda um aumento imediato de juros, não importa que a inflação esteja dentro da meta (como a de 5,9% que serviu de pretexto ao aumento de juros em janeiro, pelo Banco Central).
 
E, como a voracidade especulativa é insaciável, há os que pregam – como o atual presidente do BC - que a “meta” (e o “centro da meta”) tem de ser decrescente, portanto, tendente a zero. O fato de não existir crescimento capitalista com inflação zero não é um impedimento para esse tipo de estupidez. Nenhum deles está preocupado com o crescimento, o emprego, os salários – eles já garantiram os seus – e, muito menos, com a miséria.
 
Evidentemente, é tautológico que quanto mais irreal a “meta de inflação” (ou o “centro da meta”), mais probabilidade existe da realidade não se enquadrar a ela, portanto, do índice de inflação ser maior do que a meta ou o centro da meta - o que serve de pretexto para mais aumentos de juros.
 
Também pouco importa a inflação real, por mais baixa que seja. Segundo a diretoria do BC, o problema é o “cenário prospectivo” (a inflação de daqui a nove meses) - que sempre estará acima do “centro da meta” se os juros não forem aumentados agora...
 
Do mesmo modo, não importa a causa da inflação. Se o problema é a especulação com produtos primários (“commodities”) nos EUA, o “sistema de metas” aumenta os juros, como diz o professor Nakano, para “reprimir os demais preços das não commodities”, isto é, os preços que não tiveram elevação ou não tiveram influência na elevação da taxa de inflação.

FIM 
Na primeira parte deste artigo, prometemos apresentar um exemplo do vácuo mental do neoliberalismo. Os acontecimentos tornaram-no dispensável: tratava-se do anúncio de cortes orçamentários, feito pelo ministro da Fazenda, onde ele, literalmente, repetiu o relatório emitido em outubro pelo FMI até nas alterações terminológicas (“consolidação fiscal” ao invés de “ajuste fiscal”, etc.).
 
O neoliberalismo tem essa vantagem: não é preciso pensar, basta repetir.
 
Muita tinta – e saliva – foi dispendida, por exemplo (afinal, aí vai um exemplo...), em torno da famosa “relação dívida/PIB”, outro espantalho para que governos façam repasses bilionários aos bancos. Há alguns anos, o então ministro da Fazenda, Antonio Pallocci, declarou que eram necessários 10 anos com um “superávit primário” - isto é, um confisco do Orçamento para os bancos - de 4,25% do PIB (em números de 2010: R$ 156,2 bilhões) para reduzir essa “relação”. Não lhe passou pela cabeça, além da óbvia diminuição dos juros para poupar o país desse sacrifício, que é possível reduzir a “relação dívida/PIB” através do aumento do PIB, isto é, pelo crescimento - como apontam, há muito, até trabalhos econométricos com uma perspectiva completamente diferente da nossa (ver, p. ex., J.C.J. de Carvalho, “Tendência de Longo Prazo das Finanças Públicas no Brasil”, IPEA, maio/2001).
 
Entretanto, o neoliberalismo não é a primeira histeria reacionária que substitui ideias por uma ladainha de slogans. O nazismo também era assim. Se o leitor estranhou a referência, pedimos que lembre os milhões de seres humanos que morreram no desemprego e na fome durante os últimos 30 anos.
 
Mas talvez Paul Sweezy tenha razão ao dizer que, no ocaso do capitalismo monopolista, a reação deixou de ter uma ideologia – um conjunto de ideias que fornecia uma visão mais ou menos coerente, ainda que não essencialmente verdadeira, do mundo.
 
O neoliberalismo, portanto, é uma decomposição, uma putrefação ideológica. O fato dos acontecimentos – em especial aqueles do Leste europeu – ter-lhe dado, por debilitamento da oposição a ele no início dos anos 90, um destaque inesperado, não muda nem um pouco esse seu cunho de apodrecimento ideológico de um sistema apodrecido.
CL
Amorim: não votaria pelo envio de relator para o Irã


Indagado se votaria, no Conselho de Direitos Humanos da ONU, pelo envio de um relator especial ao Irã, o ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou que “provavelmente não”. “Com os elementos de informação que tenho, eu não votaria”, disse. “Se quisermos ser absolutamente coerentes”, argumentou, “tem que mandar um relator especial para o Irã, outro para Guantánamo, outro para ver a situação dos imigrantes na Europa”. “Se você for agir dessa maneira, eu até poderia ser a favor, mas acontece que não é assim”, completou. As declarações foram feitas à BBC e à Folha de São Paulo.

“Quando se nomeia um relator você está cortando qualquer possibilidade de diálogo”, acrescentou Amorim. “As pessoas acham que sobre cada ação há apenas uma decisão moral. Não é. A decisão é também política, não no sentido de agir em interesse próprio, mas de saber se o resultado será o que você deseja”, ponderou. Para Amorim o apoio ao envio do relator especial dificultará a atuação do Brasil como mediador de conflitos. “Torna mais difícil, não só no lado nuclear, até no lado de direitos humanos”. “Você tem duas opções: ser aquele que conversa ou o que condena”, avaliou. ‘Se entrar na política condenatória, o Brasil pode esquecer o diálogo com Irã”, destacou Amorim.

“Todo mundo criticou o presidente Lula, mas se há alguma pessoa que teve influência na não execução da Sakineh Ashtiani [iraniana condenada à morte] foi ele”, lembrou o ex-chanceler. Ele mencionou também que o governo Lula obteve do Irã a libertação de uma francesa, Clotilde Reiss, acusada de espionagem, e outras concessões. “Se você começar a entrar numa política condenatória, pode esquecer o diálogo”.

Já sobre a Líbia, Amorim disse que “não teria votado diferente”. “A decisão [de abstenção] foi difícil e corajosa por ter sido tomada na véspera da visita do Obama”, avaliou. Ele apoia a abstenção brasileira dizendo que “o grande problema na operação é que não é só a zona de exclusão aérea. Você sabe onde começa, mas não onde acaba. O risco era acontecer o que está acontecendo, ataques que vão além”, denunciou. “Pelo que eu li, o discurso da embaixadora brasileira Maria Luiza Viotti na ONU foi muito correto, ela alertou para que a situação poderia se agravar”, ressaltou.

Perguntado se as diferenças entre as posições sobre o Irã e a Líbia representariam uma mudança na política externa brasileira, Amorim disse que não. “Uma coisa é um país que tem problemas graves, mas que você pode tentar conversar. Outra é quando você tem uma situação emergencial de morticínio de civis que precisa de uma ação imediata”, afirmou. “Tenho até medo de dar essa opinião, mas a única coisa que eu tenho dúvida, embora ache que não havia condição de votar de maneira diferente, é que a [primeira] resolução do Conselho de Segurança teria sido mais inteligente e mais eficaz se não tivesse fechado a porta para a saída de Kadafi”. “Vamos admitir que o Kadafi é uma fera. Se há uma fera, tem que dar uma saída para ela, se não, a reação pode ser pior. Não é uma questão moral, é uma questão prática. Se quiser investigar depois, é diferente. Se você tem esperança de uma solução rápida, menos custosa em termos de direitos humanos, você deixa uma saída”, afirmou o ex-chanceler.
 HP
Lula: “Alca não era um projeto de comércio e sim de submissão”

O ex-presidente Lula afirmou, neste sábado, durante visita ao Uruguai, que “o Mercosul, ao comemorar 20 anos de existência, atravessa um momento glorioso”. A afirmação foi feita durante as comemorações dos 40 anos da formação da Frente Ampla do Uruguai. Para Lula, “valeu a pena lutar contra os que defendiam a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) porque a relação proposta no projeto defendido pelos Estados Unidos não era de comércio, mas sim de submissão”.

Lula foi recebido pelo presidente uruguaio, José Mujica, a quem qualificou de “um exemplo a ser seguido” por todos os latino-americanos. Muito aplaudido por um auditório lotado de integrantes da “Frente”, Lula disse que “hoje, há uma nova América do Sul”. “Um continente que ergueu a cabeça, libertou-se das tutelas internacionais e resgatou a sua soberania. Um continente que recuperou a autoestima e voltou a acreditar em si mesmo, em sua capacidade de tornar-se cada vez mais próspero e justo”.

Do Uruguai, Lula seguiu para Portugal, onde recebe da Universidade de Coimbra, nesta quarta-feira, o título de doutor honoris causa, concedido pela Faculdade de Direito da instituição. A homenagem é em reconhecimento à sua dedicação “aos grandes problemas do mundo” e por “preservar a amizade entre os dois países”. A presidenta Dilma também participa da homenagem e, depois, reúne-se com autoridades portuguesas. Juntamente com Lula, Dilma vai discutir projetos de integração entre Brasil e Portugal.

Em encontro, num restaurante na capital Lisboa, com o primeiro-ministro José Sócrates, que caiu ao tentar aprovar medidas de arrocho contra a população portuguesa, Lula aproveitou para falar da crise européia e alertar os portugueses para que não sigam cegamente o que determina o FMI. Ele lembrou que “toda vez que o FMI tentou cuidar da dívida dos países, criou mais problemas do que soluções”.
HP
Ato contra arrocho toma o centro de Londres


Centenas de milhares de ingleses lotaram o Hyde Park e depois Trafalgar Square na marcha convocada pela principal central inglesa o Trade Union Congress – TUC contra as medidas de arrocho baixadas por David Cameron.
 
O pacote prevê o corte de 50 mil empregos e de programas sociais, para econommizar 120 bilhões de dólares do orçamento, tudo para garantir o pagamento de dívidas aos bancos.
 
A manifestação, uma das maiores já assistidas pelos londrinos, foi reforçada pela presença de ingleses vindos de todo o país. O secretário-geral do TUC, Brendan Barber “Os milhares que chegaram a Londres falam por suas comunidades quando exigem que os desempregados voltem a trabalhar e que a economia seja revitalizada através do crescimento e impostos justos”.
 
Aos trabalhadores na indústria uniram-se estudantes, professores, aposentados, médicos e integrantes de muitos outros setores.
 
Entre os ameaçados está o sistema NHS – o Sistema de Saúde Nacional. “Vamos dizer a eles que não vamnos permitir que destruam aquilo que tomou gerações para ser construído”.
 
“Vão atacar serviços cruciais que aglutinam nossas comunidades e vão atingir mais duramente os mais pobres e os mais vulneráveis. O governo diz que não há alternativa, mas ela existe. Vamos manter as pessoas trabalhando e a nossa economia crescendo. Vamos taxar os bancos para nos pagarem pela bagunça que causaram”, afirmou o sindicalista.
 
Entre as medidas de “austeridade” o corte brutal nos recursos para universidades púlbicas que fez as anuidades das mesmas chegarem a até 9.000 libras (13.400 dólares) por ano.
 
O secretário de Educação, Michael Gove, logo após o ato disse “reconhecer que há preocupações públicas sobre os cortes planejados”. Mas insistiu que “o governo não vai mudar sua estratégia”.
 
Dave Prentis, secretário geral da central sindical Unison, dirigiu-se às enfermeiras presentes e afirmou: “Todas vocês sabem que já não há mais pessoal suficiente para o atendimento nos postos de saúde”.
 
“Foi lançada uma guerra contra os bombeiros e a demonstração de hoje é o começo da resposta em forma de luta. Eles acham que vamos ficar assistindo e sofrendo aumento de impostos, cortes de salários, desemprego, e devastação de nossas aposentadorias causadas por Cameron e Clegg. Devem esperar é a maior rebelião já vista”, afirmou o secretário-geral do Sindicato dos Bombeiros.
 
O líder da central Unite, Len McCluskey, declarou que a marcha era a ponta do iceberg. “Milhões se opõem aos cortes. Existe uma ira crescente que vai se construer à medida que os cortes comecem a surtir efeito”.               
HP
Manifestações em Los Angeles e Nova Iorque repudiam ataques a direitos dos trabalhadores

Milhares de lideranças sindicais, estudantes e ativistas comunitários reuniram-se na sede da Prefeitura da cidade de Nova Iorque no dia 27 e dali marcharam até Wall Street em protesto contra as ameaças de fechamento de escolas financiadas pelo governo municipal e cortes nos serviços sociais.
 
Os manifestantes carregavam cartazes exigindo o fim da Lei Taylor (instituída no governo de Nelson Rockefeller no Estado de Nova Iorque) e que proíbe a organização sindical e a greve dos servidores públicos.
 
“Verba para empregos e educação, não para guerras e ocupação!” foi a palavra de ordem entoada pelos manifestantes durante a marcha.
 
Larry Hales líder da CUNY Mobilization Network (organização fundada pelos estudante da Universidade de Nova Iorque), declarou que “os bancos e investidores de Wall Street saquearam o tesouro e todos os cortes orçamentários seriam evitados se os bancos pagassem a sua parte em impostos”.
 
A organização Bail Out the People (Resgatem o Povo) – através de sua liderança, Larry Holmes – “os novaiorquinos pagam mais de 60 bilhões de dólares a bombardeiros e porta-aviões usados contra a Líbia, Iraque e Afeganistão. Isso é ilegal e temos que parar isso e colocar o dinheiro aqui para criar empregos, escolas e serviços”.
 
Em Los Angeles, no dia 28, dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas em solidariedade aos servidores de Wisnconsin e alertando que os trabalhadores da Califórnia não permitiram que ataquem seus direitos conquistados. O Estado da Califórnia também vem anunciando arrocho diante de dificuldades para fechar o orçamento local.
 
“Parem a agressão aos trabalhadores”, afirmava uma das faixas empunhadas por manifestantes.
 
O presidente da Associação dos Bombeiros de Winsconsin, Mahlon Mitchell, alertou que o ataque aos trabalhadores de Winsconsin é um ataque a todos os trabalhadores “temos que levantar nossa indignação pois estamos diante de uma batalha pela vida”.
 
A AFL-CIO, maior central sindical dos EUA, com apoio de outras entidades e organizações convoca uma marcha nacional contra o desemprego no dia 4 de abril, dia do assassinato do líder da luta pelos direitos civis, Martin Luther King.
HP
O orçamento dos EUA para 2012: como fomentar a guerra de classes

“Os orçamentos do Pentágono, da CIA e da Segurança Interna representam US$ 1,1 trilhão do déficit federal que a administração Obama prevê para o ano fiscal de 2012. Este gasto deficitário maciço serve apenas a um único propósito – o enriquecimento das companhias privadas que servem o complexo militar e de segurança. Estas companhias, juntamente com aquelas de Wall Street, são quem elegem o governo dos EUA”, afirma o ex-editor do Wall Street Journal e ex-secretário assistente do Tesouro dos EUA, Paul Craig Roberts, no artigo que publicamos hoje

PAUL CRAIG ROBERTS *

O novo orçamento de Obama é uma continuação da guerra de classe de Wall Street contra os pobres e as camadas médias. Wall Street não acabou conosco quando os banksters venderam os seus derivativos fraudulentos aos nossos fundos de pensão, arruinaram as perspectivas de empregos e planos de aposentadoria dos americanos, asseguraram um salvamento de US$700 bilhões à custa dos contribuintes, enquanto arrestavam os lares de milhões de americanos e sobrecarregavam o balanço da Federal Reserve [banco central] com vários trilhões de dólares de lixo financeiro em troca de dinheiro recém criado para escorar os balanços dos bancos. O efeito do “alívio quantitativo” da Federal Reserve sobre a inflação, as taxas de juro e o valor cambial do dólar ainda está para nos atingir. Quando o fizer, os americanos obterão uma lição do que é a pobreza.
 
As oligarquias dominantes atacaram novamente, desta vez através do orçamento federal. O governo dos EUA tem um enorme orçamento militar e de segurança. Ele é tão grande quanto os orçamentos do resto do mundo somados. Os orçamentos do Pentágono, da CIA e da Segurança Interna representam US$ 1,1 trilhão do déficit federal que a administração Obama prevê para o ano fiscal de 2012. Este gasto deficitário maciço serve apenas a um único propósito – o enriquecimento das companhias privadas que servem o complexo militar e de segurança. Estas companhias, juntamente com aquelas de Wall Street, são quem elegem o governo dos EUA.
 
Os EUA não têm inimigos exceto aqueles que os próprios EUA criam ao bombardearem e invadirem outros países e pela derrubada de líderes estrangeiros e instalação de fantoches americanos no seu lugar.
 
A China não efetua exercícios navais ao largo da costa da Califórnia, mas os EUA efetuam jogos de guerra junto às suas costas no Mar da China. A Rússia não concentra tropas nas fronteiras da Europa, mas os EUA instalam mísseis nas fronteiras da Rússia. Os EUA estão determinados a criar tantos inimigos quanto possível a fim de continuar a sangrar a população americana para alimentar o voraz complexo militar e de segurança.
 
O governo dos EUA gasta realmente US$ 56 bilhões por ano a fim de que os americanos que viajam de avião possam ser porno-rastreados e sexualmente tateados, de modo a que firmas representadas pelo antigo secretário da Segurança Interna Michael Chertoff possam ganhar grandes lucros vendendo o equipamento de rastreamento (scanning).
 
Com um déficit orçamentário perpétuo impulsionado pelo desejo de lucros do complexo militar e de segurança, a causa real do enorme déficit do orçamento dos EUA está fora de discussão.
 
O secretário de Promoção da Guerra, Robert Gates, declarou: “Se evitarmos as nossas responsabilidades na segurança global é para nosso perigo”. As altas patentes militares advertem contra o corte de qualquer dos bilhões de ajuda a Israel e ao Egito, dois funcionários de sua “política” para o Oriente Médio.
 
Mas o que são as “nossas” responsabilidades globais de segurança? De onde vieram? Por que a América ficaria em perigo se cessasse de bombardear e invadir outros países e de interferir nos seus assuntos internos? Os riscos que a América enfrenta são criados por ela própria.
 
A resposta a esta pergunta costumava ser que, do contrário, seríamos assassinados nas nossas camas pela “conspiração comunista mundial”. Hoje a resposta é que seremos assassinados nos nossos aviões, estações de comboios e centros comerciais por “terroristas muçulmanos” e por uma recém criada ameaça imaginária – “extremistas internos”, isto é, manifestantes contra a guerra e ambientalistas.
 
O complexo militar e de segurança dos EUA é capaz de criar qualquer número de falsas bandeiras a fim de fazer com que essas ameaças pareçam reais para um público cuja inteligência é limitada à TV, experiências em centros comerciais e jogos de futebol.
 
Assim, os americanos estão atolados em enormes déficits orçamentários que a Federal Reserve deve financiar imprimindo dinheiro novo, dinheiro que mais cedo ou mais tarde destruirá o poder de compra do dólar e o seu papel como divisa de reserva mundial. Quando o dólar se for, o poder americano também irá.
 
Para as oligarquias dominantes, a questão é: como salvar o seu poder.
 
A sua resposta é: fazer o povo pagar.
 
E isso é o que o seu mais recente fantoche, o presidente Obama, está fazendo.
 
Com os EUA na pior recessão desde a Grande Depressão, uma grande recessão que John Williams e Gerald Celente, assim como eu próprio, afirmaram que está se aprofundando, o “orçamento Obama” tem como objetivo programas de apoio para os pobres e os desempregados. As elites americanas estão se transformando em idiotas quando procuram repetir na América as condições que levaram à derrubada das elites analogamente corruptas na Tunísia e no Egito, e a desafios crescentes aos demais governos fantoches.
 
Tudo o que precisamos é de uns poucos milhões mais de americanos sem nada a perder, para trazer as perturbações no Oriente Médio para dentro da América.
 
Com os militares norte-americanos atolados em guerras lá fora, uma revolução americana teria ótima oportunidade de êxito.
Políticos americanos têm de financiar Israel pois o dinheiro retorna em contribuições de campanha.
 
O governo dos EUA deve financiar os militares egípcios para haver alguma esperança de transformar o próximo governo egípcio em outro fantoche americano que servirá Israel pelo bloqueio contínuo dos palestinos arrebanhados no gueto de Gaza.
 
Estes objetivos são de longe mais importantes para a elite americana do que as bolsas que permitem a americanos pobres obterem educação, ou água limpa, ou repasses financeiros comunitários, ou o programa de assistência em energia aos que auferem baixos rendimentos (cortado na mesma quantia em que os contribuintes americanos são forçados a dar a Israel).
 
Também há US$ 7,7 bilhões de cortes no Medicaid e outros programas de saúde ao longo dos próximos cinco anos.
 
Dada a magnitude do déficit orçamentário dos EUA, estas somas são uma ninharia. Os cortes não terão qualquer efeito sobre as necessidades de financiamento do Tesouro. Eles não interromperão a necessidade de imprimir dinheiro do Federal Reserve a fim de manter o governo dos EUA em operação.
 
Estes cortes servem apenas uma finalidade: reforçar o mito do Partido Republicano de que a América está em perturbação econômica por causa dos pobres. Os pobres são preguiçosos. Eles não querem trabalhar. A única razão porque o desemprego é alto é que os pobres preferem confiar na previdência estatal.
 
Um novo acréscimo ao mito da previdência estatal é que membros da classe média saídos recentemente de faculdades não querem os empregos que lhes são oferecidos porque os seus pais têm demasiado dinheiro e os rapazes gostam de viver em casa sem terem de fazer nada. Uma geração mimada, eles saem da universidade recusando qualquer emprego que não seja para começar como executivo principal de uma companhia entre as 500 maiores da Fortune. A razão porque diplomados em engenharia não conseguem entrevistas de emprego é porque não os querem.
 
Tudo isso leva a um assalto aos “direitos adquiridos”, o que significa Segurança Social e Medicare. As elites programaram, através do seu controle da mídia, uma grande parte da população, especialmente os que se consideram conservadores, a assimilar o conceito de “direitos adquiridos” ao de previdência estatal. A América está indo para o inferno não por causa de guerras externas que não servem a qualquer objetivo americano, mas porque o povo, que durante toda a sua vida pagou 15% das suas remunerações para pensões na velhice e cuidados médicos, quer “dádivas” nos seus anos de aposentadoria. Por que essas pessoas egocêntricas pensam que os trabalhadores americanos deveriam ser forçados, através de contribuições sobre suas remunerações, a pagar as pensões e cuidados médicos dos inativos? Porque os inativos não consomem menos e preparam a sua própria aposentadoria?
 
A linha da elite, e a dos seus porta-vozes contratados em “think tanks” e universidades, é de que a América está perturbada devido aos inativos.
 
Americanos em excesso tiveram os seus cérebros lavados a fim de acreditar que a América está em perturbação por causa dos seus pobres e inativos. A América não está perturbada porque coage um número decrescente de contribuintes a sustentarem os enormes lucros do complexo militar e de segurança, os governos fantoches americanos lá fora e Israel.
 
A solução da elite americana para os problemas da América não é simplesmente arrestar as casas dos americanos cujos empregos foram exportados, mas aumentar o número de americanos aflitos, de doentes, inativos e privados de tudo, e de diplomados nas universidades que não podem encontrar os empregos que foram enviados para a China e a Índia.
 
De todos os países do mundo, nenhum necessita de uma revolução tão urgentemente quanto os Estados Unidos, um país dominado por um punhado de oligarcas egoístas que têm mais rendimento e riqueza do que pode ser gasto durante toda uma vida.
 
* Ex-editor do Wall Street Journal e ex-secretário assistente do Tesouro dos EUA.

Rússia condena bombardeios à Líbia e defende cessar-fogo

“Os relatos de ataques aéreos da coalizão contra tropas de Kadafi, e sobre o apoio a ações de insurgentes armados” estão em “clara contradição” com o “objetivo de proteger civis”, cobra a Rússia

“A interferência da coalizão no que é, essencialmente, uma guerra civil, não foi sancionada pela resolução do Conselho de Segurança da ONU”, afirmou o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, em condenação aos bombardeios contra a Líbia cometidos por EUA, França, Reino Unido e outros países. Desde 19 de março já foram executados 1602 ataques aéreos contra a Líbia, de acordo com a agência France Presse, 60% disso, pelos EUA. Com 3,5% das reservas de petróleo do mundo, a Líbia é um dos maiores abastecedores da Europa, e a China havia se tornado seu maior parceiro comercial.

“Os relatos – que ninguém nega – de ataques aéreos da coalizão contra colunas de tropas de Kadafi, e sobre o apoio a ações de insurgentes armados” estão em “clara contradição” com as declarações desses países de que “o único objetivo é a proteção dos civis”, ressaltou o chefe da diplomacia russa. Lavrov destacou que é necessário aprovar um “cessar-fogo imediato” na Líbia, e que a Rússia está apoiando a mediação oferecida pela União Africana na semana passada.

A Rússia se absteve na votação que aprovou a Resolução 1973, de “uma zona aérea de exclusão” sobre a Líbia supostamente para proteção de civis, junto com China, Brasil, Índia e Alemanha. Após o início dos ataques aéreos dos EUA e europeus – agora sob a legenda da Otan -, contra o país árabe, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, afirmou que a resolução “mais parecia uma convocação medieval para uma cruzada”.

Já o enviado da Rússia junto à Otan, Dmitry Rogozin, advertiu que “qualquer operação militar estrangeira terrestre na Líbia será considerada ocupação do país”, segundo a agência de notícias Ria Novosti. A entrada de tropas estrangeiras terrestres na Líbia foi expressamente proibida na resolução 1973, mas Washington, Wall Street, a City londrina, Paris e outros buracos menos votados já estão dando tratos à bola sobre como dar o dito por não dito. Entre as idéias em consideração, há a cínica sugestão de considerar eventuais tropas estrangeiras terrestres como “escolta da ajuda humanitária”.

Não são apenas os russos que apontam as violações da resolução 1973 pela coalizão. Até mesmo Lord Ashdown, ex-alto representante da ONU para a Bósnia-Herzegovina, admitiu que o “contínuo apoio” às gangs do leste equivale a “apoiar mudança do regime, o que legalmente está além da resolução do CS”. Para evitarem chegar à mesma conclusão óbvia, outros juristas, ouvidos pelo jornal “Guardian”, recorreram aos mais diversos malabarismos.

Mas, como indagou um leitor do “Guardian” em comentário, se a aviação estrangeira está lá para “proteger os civis” de quem está dando tiro neles, porque a investida dos “rebeldes” contra Sirta não é bombardeada pela coalizão? A propósito, o correspondente do jornal, que está em Sirta, se viu forçado a reconhecer que a população local está com o líder Kadafi. Uma boa explicação – pelo menos de acordo com a rede de jornais McClatchy, dos EUA, que inclui o “Miami Herald” - é que o principal “chefe militar” dos “rebeldes” “viveu 20 anos na Virginia”. E bem perto da sede da CIA, que é pra não demorar a chegar ao serviço.

Questão semelhante foi apontada pelo porta-voz do governo líbio, Moussa Ibrahim. As gangs “estão avançando e ninguém os está parando”, apontou. E ninguém “nem mesmo está lhes dizendo, ‘onde vocês vão’ ou ‘por que vocês estão tomando posições ofensivas e atacando o exército líbio e as cidades líbias’”. Ibrahim denunciou que a Otan quer “matar de fome a população líbia para colocar a Líbia de joelhos e fazê-la pedir clemência”. Ele afirmou, ainda, que os civis líbios “estão sendo aterrorizados diariamente” pelos ataques aéreos estrangeiros. “Nós consideramos que a desnecessária continuação dos ataques aéreos é um plano para pôr o governo líbio em posição de negociação fraca.” Na segunda-feira, a televisão libia mostrou imagens de feridos em um hospital e de prédios destruídos. Civis ficaram feridos em bombardeio da Otan à cidade de Sabha nas primeiras horas da manhã. De acordo com o governo líbio, já foram mortos 114 líbios nos ataques aéreos, e 445 ficaram feridos.

SOLUÇÃO FINAL

Obama, por sua vez, foi à televisão no esforço de engrupir a população sobre a terceira guerra dos EUA por petróleo em uma década, O presidente Nobel da Paz asseverou que “não vai promover troca de regime”, pois isso é muito complicado e caro (US$ 1 trilhão), como visto no Iraque e Afeganistão. Mas, asseverou, enquanto existirem tropas de Kadafi vai haver “ameaça”, e então tem de continuar bombardeando. Obama incumbiu o governo inglês – que tem duas proposições para a Líbia, uma, matar Kadafi, a outra, derrubar seu regime, não necessariamente na mesma ordem – de encontrar uma “solução política” para a Líbia, no que será ajudado de perto por Sarkozy e a Chevron. Esta, aliás, havia deixado inesperadamente a Líbia em outubro, onde fazia prospecções desde 2005.

Como registrou outro leitor do “Guardian”, 40 países se reúnem em Londres para discutir “o futuro da Líbia” e nem mesmo o governo líbio é convidado. Se já não tivesse sido pendurado num poste, certamente Mussolini seria o presidente de honra do evento.
                                                                                                                                                                                         
                                                                                            

                                                                                            
ANTONIO PIMENTA
Para Gates, bombardeios com
Tomahawk não matam ninguém

Os mísseis Tomahawk, as bombas ‘inteligentes” e as a GPS explodem, explodem, mas não matam ninguém, segundo o chefe do Pentágono, Robert Gates. Ele asseverou ter “informes de inteligência sobre Kadafi pegando os corpos das pessoas que ele matou e os pondo nos locais que nós bombardeamos”. Ele filosofou ainda que as mortes de civis provocadas pelos bombardeios da coalizão dos EUA “não são significativas”.

Assim, segundo o chefe daqueles rapazes “das colinas de Montezuma às praias de Trípoli” (Hino dos Marines), as 1602 incursões aéreas e ataques com mísseis de cruzeiro dos primeiros dez dias de ataque só fizeram buraco nos “locais que nós bombardeamos”. Os mortos, esses são do Kadafi, que, só para atrapalhar a missão humanitária, fica arrastando cadáveres até lá.

Nem sempre foi assim. Por exemplo, no velho Oeste, índio bom era índio morto. No Vietnã, se um camponês era assassinado pelos invasores dos EUA, automaticamente era tido como um “vietcong” a menos. Chacinas, no Iraque e Afeganistão, viraram “danos colaterais”. Mais colaterais ainda se resultado de ataques com aviões não-tripulados. Se morto na tortura, erro de cálculo.
                                                                                      A.P.